Título: Xiitas são expulsos de aldeias de maioria sunita
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Internacional, p. A10
Salim Rashid, 34 anos, um trabalhador xiita em uma aldeia de maioria sunita ao norte de Bagdá, recebeu seu aviso de expulsão na sexta-feira de um homem à porta de sua casa com um lança-foguetes.
"São 6 da tarde", disse o homem mascarado, segundo Rashid. "Queremos você fora daqui às 8 de noite de amanhã. Se o encontrarmos aqui, nós o mataremos." O incidente faz parte da escalada de violência sectária entre xiitas e sunitas em amplas faixas do Iraque central depois do atentado a bomba que destruiu uma mesquita xiita há oito dias em Samara.
À pé, de carona e em veículos alugados, o clã de Rashid e muitas das outras 25 famílias expulsas do povoado de Mishada partiram para um centro da juventude no bairro predominantemente xiita de Shula, em Bagdá. Ali, outras pessoas expulsas de suas casas já estavam dividindo o espaço em colchões doados.
Com a escalada da violência sectária, as famílias se tornaram símbolos de uma tendência emergente no Iraque: a expulsão de xiitas de redutos sunitas.
Novos ataques - muitos de caráter retaliatório - ocorreram terça-feira e ontem, deixando cerca de cem mortos, segundo a polícia. A decisão de levantar o toque de recolher na segunda-feira, em Bagdá, parece ter aberto o caminho para uma retomada dos atentados a bomba.
Pelo menos 58 famílias xiitas desalojadas vieram para Shula desde o fim da semana passada, disse Raad al-Husseini, um clérigo xiita que está ajudando a alojar as famílias. Ele creditou a Muqtada al-Sadr, um clérigo xiita e força política em ascensão, e aos moradores da vizinhança, a ajuda aos refugiados. Segundo Rashid, cerca de 200 pessoas abandonaram Mishada. Ele disse ainda que outros haviam decidido ir para alguns dos povoados de maioria xiita do sul, por sentirem-se mais seguros entre gente da própria seita.