Título: Políticos querem saída de chefe do governo iraquiano
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Internacional, p. A10

Jaafari é acusado de ter sido prevenido sobre ataques a santuários xiitas e não ter feito nada para impedir

BAGDÁ

Grupos políticos sunitas, curdos e xiitas secularistas, cujo apoio é importante para a formação de um governo de unidade nacional no Iraque, concordaram ontem em empreender esforços para que o primeiro-ministro interino, o xiita Ibrahim al-Jaafari, seja mantido no cargo. Ele representa uma aliança de religiosos xiitas, majoritária no Parlamento.

A notícia foi dada, sob condição de anonimato, por líderes dos três grupos, num momento em que aumenta a pressão sob Jaafari por não ter tomado medidas para impedir a violência sectária, intensificada com o atentado que na semana passada destruiu a Mesquita Dourada, em Samara. Esse templo é o quarto santuário mais venerado pelos xiitas iraquianos.

Ontem, pelo menos 47 pessoas morreram em atentados a bomba e tiroteios contra alvos relacionados aos xiitas ou sunitas, bem como às forças de segurança iraquianas. A explosão de um carro-bomba no leste de Bagdá matou 25 pessoas. Em Kirkuk, no norte, insurgentes sunitas emboscaram um comboio da polícia, matando quatro. Outros ataques tiveram civis como alvo. Um carro-bomba explodiu diante de uma mesquita sunita, sem causar vítimas.

Há rumores de que Jaafari foi prevenido de que extremistas planejavam ataques contra santuários xiitas e nada fez. Ao mesmo tempo, líderes sunitas acusam milícias xiitas integradas à polícia de atacar sua comunidade. A Associação dos Clérigos Muçulmanos sunitas fez um chamado para que os sunitas patrulhem seus bairros. "Nossos irmãos têm de proteger suas mesquitas, já que o governo fracassou nisso", disse um porta-voz dessa entidade.

Depois do atentado em Samara, milícias e manifestantes xiitas danificaram mais de cem mesquitas sunitas em todo o Iraque. Os sunitas acusam milícias integradas ao Ministério do Interior e à polícia de participar de chacinas contra sua comunidade. Já os xiitas se mostram cada vez mais impacientes com os ataques dos grupos rebeldes sunitas contra as forças iraquianas e bairros e templos xiitas.

Os EUA e o governo iraquiano responsabilizaram a rede Al-Qaeda pelo atentado em Samara, que, segundo avaliam, teria como objetivo insuflar a guerra civil num momento em que xiitas, curdos e sunitas tentam formar um governo de união nacional.