Título: CNBB acusa Lula de tornar País um 'paraíso financeiro'
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Nacional, p. A7

D. Odilo Scherer diz que ele não é coerente com sua proposta eleitoral e defende revisão da política social

O se cretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Odilo Scherer, afirmou ontem que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu ser coerente com sua proposta eleitoral e classificou o País de "paraíso financeiro".

"Temos conhecimento das pressões existentes num governo, mas é preciso que interesses da sociedade também sejam satisfeitos", disse. Durante o lançamento da Campanha da Fraternidade, d. Odilo defendeu a revisão da política social e econômica, com redução das taxas de juros. Medidas que, em sua avaliação, são indispensáveis para superar a pobreza e corrigir o desnível entre ricos e pobres.

A política econômica do governo foi também criticada, ontem, pelo cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes - que nos anos 70 protegeu não só o líder sindical Lula como outros sindicalistas do ABC contra os arbítrios da ditadura militar. Ao falar sobre o crescimento de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), d. Cláudio disse que o resultado foi "para todo o Brasil uma surpresa desagradável". "A esperança já não era muito grande, mas ficou muito abaixo da expectativa", comentou d. Cláudio.

Na sua fala, em Brasília, d. Odilo afirmou que o crescimento de apenas 2,3% é fruto de uma política financeira concentradora, que transforma o País num paraíso para alguns grupos. Segundo ele, medidas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, têm seu mérito e devem continuar. "Mas é preciso ir além delas, gerar emprego, trabalho."

O secretário-geral afirmou, enfático, que o apoio a candidatos este ano está condicionado às propostas na área social. "A Igreja pretende ser porta-voz de quem não tem voz", explicou. E a população "quer saber o que será feito para gerar trabalho, distribuir renda e acabar com a sangria para grupos financeiros".

'PROJETO BRASIL'

Na mesma linha, d. Cláudio Hummes advertiu que "é preciso reelaborar o projeto Brasil" e que o baixo nível de crescimento da economia deve fazer "refletir a todos" na campanha eleitoral de outubro. "Não sou analista político, especialista ou economista, mas, pelo que se escuta, o Brasil precisa crescer, porque não crescer é não ter emprego."

D. Cláudio criticou os juros altos, que "tornam difíceis os investimentos produtivos". Para ele, talvez o Brasil tenha seguido um "caminho duro" em busca da estabilidade. "Mas é mais que hora de dar um novo passo, em direção ao crescimento e à questão social."