Título: Não basta Serra dizer sim para encerrar disputa, avisa Alckmin
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Nacional, p. A6

Governador afirma que escolha do candidato tucano é decisão coletiva

Pré-candidato do PSDB à Presidência, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse ontem que a definição do candidato do partido à sucessão do presidente Lula não depende de vontade pessoal. A afirmação foi uma resposta às insinuações de que basta José Serra, prefeito da capital, afirmar que deseja ser candidato para haver o lançamento pelo partido.

"Não é uma decisão pessoal, é de coletivo", afirmou ele, depois de participar do lançamento da Campanha da Fraternidade, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na Praça da Sé. O PSDB espera para hoje uma resposta de Serra, que retorna da Argentina, sobre sua disposição de renunciar ao cargo para tentar impedir a reeleição de Lula.

Alckmin procurou ontem minimizar a disputa entre ele e Serra. Afirmando estar "110% zen", disse que fez sua parte e está "extremamente otimista" quanto à possibilidade de ser escolhido. "Eu coloquei meu nome à disposição do PSDB. Percorri todas as etapas do partido, inclusive no diálogo com a sociedade e a receptividade foi muito boa", reiterou. "Não há nenhuma novidade. Vamos aguardar", desconversou.

O governador insistiu em que não há razão para o PSDB ter pressa para definir entre ele e Serra. Ressaltou que a decisão do partido será tomada ainda este mês, por causa do prazo da desincompatibilização. "Em março não precisa ser no primeiro dia. Pode ser daqui a uma semana, dez dias. Não há razão para correria", comentou. "O importante é que a decisão seja boa e o partido esteja unido em torno dessa decisão para fazer uma boa campanha."

CÂMBIO ATRAPALHADO

Alckmin voltou a bater duro no governo Lula. Ao analisar o crescimento de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), o pré-candidato tucano afirmou que "acendeu a luz amarela, se é que não a vermelha".

O governador assegurou que "é evidente" que, se eleito presidente, mudará a política econômica em curso. "A política monetária está errada. Não é possível juro real de 12% ao ano. Isso está errado", disse. Por conseqüência, prosseguiu Alckmin, o câmbio é "atrapalhado".

"O câmbio é livre, e isso é correto, mas ele está profundamente afetado pela política monetária", insistiu, à saída da Catedral da Sé, na região central da cidade.

Alckmin também reclamou da política fiscal da gestão petista. "O governo federal não teve nenhuma medida para melhorar a questão fiscal. E piorou ao aumentar em 1,5% a carga tributária e os gastos correntes. Isso precisa ser corrigido."

O pré-candidato do PSDB negou que tenha adotado a estratégia de "descolar" sua imagem da do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para viabilizar seu nome para a disputa eleitoral. "Isso não tem procedência. Fernando Henrique foi um marco na política brasileira."

Ao cumprir a agenda, Alckmin foi a pé a uma padaria no entorno da Catedral da Sé. Posou para fotografias, distribuiu autógrafos e foi chamado de "presidente".