Título: PSDB ganha tempo para se definir
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Nacional, p. A6

Tucanos esperam melhorar clima no partido e prometem apontar presidenciável entre os dias 10 e 15 deste mês

Em busca de tempo para cicatrizar as feridas abertas na disputa entre o governador paulista, Geraldo Alckmin, e o prefeito José Serra, o comando nacional do PSDB redefiniu, mais uma vez, a data provável do anúncio do candidato tucano à Presidência - será entre 10 e 15 de março. Antes do carnaval, o comando do partido avaliou que ainda precisa de pelo menos dez dias para criar um clima favorável ao anúncio do candidato, de forma a que o não-indicado se sinta confortável para apoiar francamente o escolhido.

Os principais líderes tucanos aproveitaram o carnaval e programaram uma retirada estratégica da cena política para reduzir a pressão pela delicada escolha: Fernando Henrique Cardoso foi para Trancoso (BA); o governador Aécio Neves, para o Canadá; o prefeito José Serra, para Buenos Aires e o senador Tasso Jereissati, presidente do partido, ficará até domingo enfurnado em sua fazenda, na serra do Baturité, no Ceará.

FEELING DIZ 'SIM'

O prefeito José Serra marcou sua volta a São Paulo para a madrugada de hoje, mas não deve trazer uma decisão final sobre a aceitação da candidatura. O Estado ontem indagou o feeling de alguns dos mais arraigados serristas sobre a tendência do prefeito - todos responderam, sem pestanejar, que pressentem um "sim", a aceitação da candidatura.

Serra já esteve mais decidido ainda a encarar o desafio de concorrer à Presidência. Há 40 dias, numa reunião com cinco auxiliares próximos - entre eles os secretários Aloizio Nunes Ferreira (Governo) e Walter Feldman (Subprefeituras) -, ele comunicou que tinha decidido e iria levá-los para a campanha. "Preparem-se para a guerra", disse. Há duas semanas, em meio ao tiroteio com Alckmin, o prefeito desfez a convocação.

Se aceitar ser candidato, Serra será ungido pelo comando do PSDB, que terá um problema delicado a resolver: acalmar Alckmin e fazer com que ele aceite a decisão e se dedique a apoiar Serra. No entender de alguns dirigentes tucanos, o comportamento do governador nas últimas semanas dificultou a pacificação, porque ele teria "queimado as caravelas" - colocou a sua candidatura como irreversível, o que bloqueou as negociações e tirou os espaços de um eventual recuo.

'SERRA, FIQUE'

Se a decisão for em favor de Alckmin, também será preciso tempo para acalmar os serristas, ainda irritados com certos movimentos de Alckmin e alguns de seus apoiadores. A tensão começou quando Alckmin citou várias vezes o compromisso de Serra de não renunciar à Prefeitura. Encorpou quando, há dez dias, as ruas paulistanas amanheceram com faixas que pediam: "Serra, fique."

O pico da irritação foi atingido com uma entrevista de Lila Covas, viúva do governador Mário Covas, ao Blog do Moreno, criticando a pré-candidatura Serra. Nos bastidores, os serristas apontam o secretário da Educação de Alckmin, Gabriel Chalita, como autor da articulação para usar Lila contra Serra. Um líder próximo ao prefeito, ainda nervoso, pergunta: "Se dona Lila não mexerá uma palha por Serra, por que Serra deveria mexer uma palha por Alckmin?"

Essas feridas expostas é que precisam ser tratadas antes do anúncio do candidato. A desconstrução da tática agressiva de Alckmin foi complexa, revela um dirigente tucano. Primeiro, ele foi convencido a parar de falar em prévias para escolher o candidato. Depois Alckmin foi baixando o tom gradativamente, até declarar-se "um soldado do partido" e admitir apoiar a escolha do PSDB. A idéia do comando do partido é que até dia 10, ou dia 15, tudo isso estará bem mais calmo.