Título: Picasso, Dalí e Monet roubados no Rio
Autor: Beatriz Coelho Silva, Clarissa Thomé, Felipe W.
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2006, Metrópole, p. C3

Quadrilha com metralhadoras e granadas leva algumas das principais obras do Museu da Chácara do Céu

Funcionário do Museu da Chácara do Céu desde 1971, o vigia noturno Roberto Rodrigues Machado, de 64 anos, chegava para trabalhar quando viu três homens correndo, na saída do imóvel, um deles carregando um quadro. "Quando vi que era o Picasso, tentei tomar dele. Outro veio por trás e me deu uma coronhada na cabeça. Ainda levaram meu celular e mandaram eu correr. Achei que iam atirar, mas eles correram para a mata, estavam com mais medo do que eu", disse Machado.

Apesar do esforço do vigia, quatro homens armados até com granadas roubaram A Dança, de Picasso, O Jardim de Luxemburgo, de Matisse, Dois Balcões, de Dalí, e Marinha, de Monet, além de uma gravura de Picasso , do acervo da Chácara do Céu, em Santa Teresa, no Rio. Eles aproveitaram a movimentação nas ruas do bairro, lotadas por causa da concentração do Bloco das Carmelitas. O bando dominou Machado, que trabalha desarmado, e ameaçou explodir uma granada, caso o alarme não fosse desligado.

Para o diretor de Museus do Ministério da Cultura, José Nascimento Júnior, há uma quadrilha de ladrões de obras de arte atuando no Estado. "Essa ação deixa claro que existe um grupo especializado, com ações há muito tempo no Rio, porque não foi o primeiro roubo que aconteceu. E não há segurança que impeça a invasão de um bando armado com metralhadoras e granada", afirmou. "Os quadros foram escolhidos a dedo. Foi encomenda mesmo", afirmou Vera Alencar, diretora do museu há 15 anos.

Os assaltantes dominaram cinco turistas e um guia e roubaram dinheiro, celulares e máquinas fotográficas. As vítimas foram trancadas numa sala. O taxista e guia José Paulino Tiengo, que acompanhava duas australianas, também foi agredido pelos ladrões, que o confundiram com um dos guardas. As turistas perderam US$ 1.800 e duas máquinas digitais. "Estou consternado por causa das moças e dos quadros. Tínhamos acabado de vê-los quando foram roubados."

Um dos seguranças do museu, que não quis ser identificado, contou que o mais novo dos criminosos, que aparentava ter 18 anos, era o que entendia de arte. Ele indicava os quadros mais valiosos. Na fuga, ele viu quando um dos rapazes tropeçou. "Na queda, um dos quadros rasgou", garantiu.

Nascimento disse que os quadros levados são catalogados no Brasil e no exterior e, por isso, os ladrões não conseguirão vendê-los legalmente ou mesmo transportá-los por via aérea. O governo brasileiro já se encarregou de enviar informações à Interpol, que encaminhará a descrição dos objetos roubados para dezenas de países.

A Chácara do Céu forma, com o Museu do Açude, no Alto da Tijuca, zona norte, os Museus Castro Maya, pois os imóveis pertenciam ao milionário Raymundo Ottoni Castro Maya, que colecionou obras de arte a vida inteira, doadas em testamento ao governo federal. Seu acervo de arte brasileira é também um dos mais preciosos do País, porque lá está a maior coleção pública de Debret, com todas as gravuras que o artista fez em sua passagem pelo Brasil, na época da Independência.

Segundo Nascimento, aparentemente, as obras de Debret, que ficam guardadas em gavetas climatizadas, não foram tocadas pelos ladrões. Mas até o início da noite de ontem a Polícia Federal, museólogos e técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ainda não haviam terminado o levantamento do acervo roubado.