Título: Al-Qaeda ataca petróleo saudita
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2006, Internacional, p. A8

Seguranças da maior refinaria do mundo impedem atentado suicida, no 1.º ataque do gênero no país

RIAD

Um grupo de atacantes suicidas foi contido por guardas sauditas, ontem à tarde, quando tentava lançar dois veículos carregados de explosivos contra a maior refinaria do mundo, em Abqaiq, leste da Arábia Saudita. Foi o primeiro atentado terrorista contra uma instalação petrolífera do país, que é o maior exportador mundial do produto. Segundo o governo, morreram dois atacantes e dois seguranças. Alguns trabalhadores também teriam ficado feridos, disseram testemunhas.

A rede Al-Qaeda, do saudita Osama bin Laden, assumiu a responsabilidade pelo ataque. Em um comunicado colocado em um site islâmico geralmente usado por grupos militantes, a célula da Al-Qaeda disse que dois de seus membros cometeram a operação suicida, mas sem dar mais detalhes. A autenticidade do comunicado não tinha sido confirmada, mas o ataque de ontem se assemelha a outros desencadeados na Arábia Saudita por essa organização nos últimos anos (ler ao lado).

As notícias do ataque tiveram imediata repercussão no mercado internacional de petróleo, já com tendência de alta por causa da forte demanda e os conflitos na região produtora da Nigéria: os preços ontem subiram mais de US$ 2 por barril, fechando a US$ 62,80 na Bolsa de Nova York.

Pelo imenso complexo de Abqaiq, situado no Golfo Pérsico, passam cerca de dois terços da produção de petróleo do país. O Ministério do Petróleo se apressou em informar que o atentado não afetou o processamento do produto, negando, assim, notícia da TV Al-Arabiya, de Dubai, sobre interrupção do bombeamento por causa de danos em um oleoduto.

Há divergências nas informações sobre o ataque. Segundo o assessor de Segurança Nacional, Nawaf Obaid, os guardas da refinaria de Abqaiq dispararam contra os carros no momento em que os motoristas os lançaram contra os portões, situados a 1,5 quilômetro da entrada principal do complexo.

Os tiros detonaram as bombas, provocando um incêndio rapidamente apagado, de acordo com o governo. Mas há testemunhas dizendo que os terroristas provocaram a explosão quando os guardas dispararam. No primeiro veículo iam homens armados e nos outros dois, grande quantidade de explosivos. Obaid não detalhou quantos extremistas participaram da operação nem se houve prisões. Houve relatos, não confirmados, de que os guardas trocaram tiros por um longo período com os extremistas.

Um jornalista da Associated Press em Abqaiq viu ambulâncias em alta velocidade pelas ruas da cidade horas após o atentado. Os veículos traziam o logotipo da Saudi Aramco, empresa nacional de petróleo que é a maior do mundo no setor. Pouco depois do atentado, a Aramco informou que suas instalações são protegidas por um forte esquema de segurança, que inclui helicópteros, câmeras de TV, sensores de movimento e milhares de guardas armados e bem treinados. Três cercas protegem a refinaria de Abqaiq. Os extremistas não conseguiram passar da primeira.

"As medidas de segurança nas instalações petrolíferas são melhores do que as dos palácios reais. Nesse ataque ficou patente a ignorância dos extremistas sobre a Aramco", disse o perito na indústria do petróleo Fares bin Houzam. Apesar da bem-sucedida reação dos seguranças, o atentado elevou os temores de que a Al-Qaeda desencadeie uma onda de ataques contra poços, oleodutos e refinarias sauditas, numa estratégia para desestabilizar o reino e afetar o Ocidente. A Arábia Saudita é o principal fornecedor de petróleo para os EUA. Bin Laden luta contra a monarquia do país, à qual acusa de ser moralmente corrupta, e se opõe à ligação do país com os EUA, que mantêm bases no reino.