Título: Lula vai manter cotas de partidos na próxima reforma ministerial
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2006, Nacional, p. A4

Algumas pastas devem perder seus titulares, que deixarão o Executivo para disputar as eleições de outubro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não alterar a composição partidária do governo na substituição de ministros que terá de fazer até 31 de março, último prazo para a saída dos que vão disputar algum cargo na eleição de outubro. Assim, ministérios hoje na mão do PMDB, como os das Comunicações, de Minas e Energia e da Saúde, continuarão com o partido, mesmo que seus titulares saiam para buscar a sorte na eleição.

Essa decisão de Lula foi motivada pelo fim da verticalização, que obrigava as chapas nos Estados a obedecerem a composição federal, conta um assessor do Palácio do Planalto. A coincidência das coligações foi derrubada pelo Congresso durante a convocação extraordinária. Com isso, mesmo que uma parte do PMDB seja contra, uma parcela deverá ficar ao lado do governo, como sempre acontece com o partido.

Lula decidiu também não substituir os políticos por técnicos sem vínculo partidário. Se o cargo é de um político, para o lugar vai um político. A exceção - pelo menos por enquanto - é a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), pivô da maior crise política enfrentada pelo governo petista. Tradicional feudo de políticos, pelo menos enquanto durarem as investigações sobre o valerioduto, os Correios continuarão nas mãos dos técnicos que substituíram a antiga diretoria, que desabou depois das denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o mensalão.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), além do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), todos da ala governista, lutam para ratear a diretoria que virá. Mas eles têm esbarrado na resistência do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que é do PMDB, e da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que preferem manter no comando o técnico Janio Cezar Luiz Pohren.

SUCESSO

Um auxiliar do presidente lembra que, apesar dos tempos difíceis, desde que a nova diretoria tomou posse, os Correios não se envolveram em nenhum escândalo. Pelo contrário. A empresa teve lucros e, dos R$ 8 bilhões gastos em operações que apareciam como suspeitas e foram investigadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), hoje só estão sob auditoria R$ 130 milhões. É provável que outros R$ 100 milhões saiam da lista de suspeição, restando R$ 30 milhões para um exame mais apurado do TCU.

Dos atuais 35 auxiliares diretos de Lula, entre 7 e 9 devem disputar cargo eletivo em outubro. O vice-presidente José Alencar (PRB), ministro da Defesa, já avisou que quer sair até 31 de março. Ele se disse disposto a fazer nova dobradinha com o presidente, mas isso é improvável. Alencar aceita até ser candidato a deputado pelo PRB. Acha que pode puxar os votos da Igreja Universal do Reino de Deus, à qual seu partido é ligado.

Quem está envolvido numa engenharia difícil é Hélio Costa. Caso o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), não seja candidato à reeleição e dispute o mandato de senador, Costa tem a promessa de que terá seu apoio. Mas se Aécio aparecer como a terceira via dos tucanos para disputar a Presidência, Costa deverá ficar quieto no ministério, porque pretende marchar com Lula na eleição.

O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, deverá ser substituído no cargo pelo ex-presidente do PT e ex-ministro da Educação Tarso Genro. Wagner ainda não tem a aprovação de Lula, mas articula uma frente dos partidos de oposição na Bahia. Se conseguir repetir a ampla aliança que elegeu João Henrique (PDT) prefeito de Salvador, acha que tem condição de derrotar o candidato que for apoiado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), provavelmente o governador Paulo Souto. Nessa frente poderia entrar até o PSDB.