Título: Cálculos mostram equívoco das críticas ao IBGE
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

Técnicos do instituto chegaram a ser acusados por integrantes do governo de erro nas contas do PIB

O crescimento de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado confirmou que eram equivocadas as críticas feitas há alguns meses por integrantes do governo às estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os técnicos do instituto foram até mesmo acusados de erro no cálculo do resultado que apontava desaceleração no ritmo da atividade econômica no fim do terceiro trimestre de 2005 - queda de 1,2% em relação a igual período de 2004.

As críticas partiram de todos os lados e os números foram questionados inclusive por diretores do Banco Central em reunião com economistas em São Paulo. Na época, falava-se que os dados não eram conclusivos e que o instituto iria rever as estatísticas e, certamente, o resultado do ano iria se aproximar das estimativas oficiais: um crescimento de 3,4%.

A avalanche de críticas só foi contida quando o IBGE divulgou nota esclarecendo os critérios e a forma de cálculo dos valores do PIB, deixando inequívoco que uma revisão não aconteceria no curto prazo.

De fato, o IBGE faz uma revisão da série a cada divulgação de novos números, um procedimento usual e necessário para corrigir eventuais distorções. O anormal, na época, era a insistência da área técnica do governo em desqualificar a informação, na expectativa de conter o elevado grau de insatisfação com o governo, principalmente depois da divulgação das denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson, em meados do ano passado, sobre o pagamento do mensalão a políticos que apoiassem projetos do governo no Congresso.

As críticas ao IBGE criaram ainda condições para acirrar a disputa interna no governo em torno do elevado patamar da taxa Selic, os juros básicos da economia definidos pelo Banco Central. Ontem, o governo já não exibia a surpresa, mas a certeza de que, de fato, os juros elevados impediram a economia de crescer.

O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, reconheceu que a taxa de juros praticada no período de setembro de 2004 a agosto de 2005 foi um dos principais fatores de retração do PIB no ano passado. Ele reconheceu que, embora o governo já esperasse por esse resultado, um crescimento de apenas 2,3% ficou muito aquém do que todos gostariam. No entanto, não polemizou com o BC, afirmando, ao contrário, que a política monetária se mostrou eficaz porque a inflação está sob controle e convergindo para a meta.