Título: País vai dar 'uma bombadinha' este ano, diz Bernardo
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

Ministro do Planejamento prevê crescimento de 5%, mas teme mau desempenho do setor agropecuário

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reconheceu que o pequeno aumento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou aquém do desejado. Mas procurou mostrar-se otimista e afirmou que economia brasileira vai dar "uma bombadinha" neste ano. Ele previu uma expansão da atividade econômica em torno de 5%, estimativa mais favorável do que os 4% projetados pelo Banco Central (BC).

Em entrevista ao Estado, Bernardo disse que o crescimento em 2006 vai surpreender e mostrar que a economia do País entrou numa fase de previsibilidade. O maior ponto de preocupação que ainda permanece, afirmou, é o setor agropecuário, por causa do risco de uma nova quebra da safra agrícola. Segundo o ministro, a maior parte dos fatores que contribuíram para a desaceleração do crescimento em 2005 está hoje superada e equacionada.

Ele citou: inflação sob controle e convergindo para as metas (o que permite a queda dos juros), ajuste dos estoques das empresas e crise política. "Se olharmos esses fatores, todos são muito melhores." De acordo com Bernardo, a crise política que afetou a confiança de consumidores e empresários e prejudicou o crescimento do PIB, é hoje "residual".

O nível de estoques das empresas também não é mais um problema como foi no terceiro trimestre de 2005. "As empresas estavam com estoques mais altos e desaceleraram para ajustar a produção, o que já foi sanado", ressaltou ele. Com a inflação em queda e a melhoria dos indicadores econômicos, também estão sendo criadas as condições para o BC continuar avançando na queda dos juros. No caso do setor agrícola, Paulo Bernardo disse que o governo está atento para os problemas e para o risco de quebra da safra.

"Temos de fato um temor do que vai acontecer na área agrícola. Ainda há sinais de que podemos ter uma quebra da safra, de seca. Esse seria um ponto não resolvido do que aconteceu no ano passado e que precisa ser observado. Estamos atentos", afirmou.

Com uma tabela nas mãos, o ministro mostrou vários indicadores que apresentaram crescimento acima do PIB em 2005: produção de bens duráveis (11,4%), exportações de manufaturados (13,50%), vendas de bens duráveis (16%), produção de veículos (6,10%), emprego com carteira assinada (5,88%), massa salarial real (5%), vendas de comércio varejista (4,80%). "Claro que gostaríamos que tivesse havido desempenho maior do PIB. Mas não podemos olhar só um número da economia. A percepção das pessoas sobre o desempenho da economia pode ser diferenciada."

VULNERABILIDADE

Otimista com os indicadores mais recentes, o ministro afirmou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou com a vulnerabilidade externa do País. "Quem iria imaginar um negócio desses! Que o presidente Lula iria liquidar a dívida externa.Sem calote", ressaltou.

Ele comentou também que o dólar está com uma cotação baixa em relação ao real e o País não está se endividando. "Normalmente, a tentação quando o dólar está baixo é fazer uma dívida colossal. Estamos fazendo o contrário: aumentando reservas", disse ele.

O ministro argumentou que a redução da vulnerabilidade externa cria condições para atração de investimento de mais longo prazo. Nos próximos dois a três anos, previu, o perfil da dívida interna terá sofrido uma mudança tão significativa como a ocorrida com a dívida externa. Ele alertou, no entanto, que é preciso paciência, numa referência às críticas dentro e fora do governo.

"Não podemos nos impacientar e achar que vamos resolver as coisa com canetada." Sobre a área fiscal, afirmou que está "controlada, mas poderia ser melhor". "Seria extremamente salutar ter um perfil de desempenho da área fiscal bem claro e previsível de oito a dez anos", disse o ministro, que voltou a defender um plano fiscal de médio e longo prazos. Segundo ele, esse ainda é o debate a ser feito.