Título: Na região, Brasil só ganha do Haiti
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2006, Economia & Negócios, p. B5

O país mais pobre da América Latina, que enfrentou uma grave crise política, cresceu 1,5% no ano passado

O crescimento do PIB do Brasil em 2005 só foi superior ao do Haiti (1,5%), o país mais pobre da América Latina, que atravessou o ano enredado em grave crise política. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), todas as demais 18 economias latino-americanas tiveram resultados melhores. Os 2,3% do País correspondem a quase metade da média da região, de 4,3%. Num ano em que as condições mundiais favoráveis empurraram países emergentes, como Índia e China, a crescimentos entre 7% e 10%, o Brasil patinou, segundo analistas, devido aos obstáculos de sua economia.

"Um crescimento desse foi obra de uma imensa barbeiragem da política econômica", sentencia Pedro Silveira, economista-chefe da consultoria GlobalInvest. Ele desconsidera avaliações de que a crise política de 2005 possa ter atropelado a economia a ponto de influir tão drasticamente. "A discussão é equivocada. O balanço do PIB passa pela taxa de juros real, que ficou entre 13% e 15%, bem abaixo da taxa de retorno financeiro da melhor empresa brasileira, a Petrobrás, que foi de 12%. Com condições como esta, quem vai investir?"

Renato Baumann, diretor da Cepal no Brasil, ponderou que o crescimento limitado num determinado ano "não quer dizer muita coisa" para a competitividade internacional do País, mas considera que se a região continuar a crescer a um ritmo entre 4% e 6% ao ano e o Brasil continuar no nível de 2% por um período de três anos a inserção internacional será cada vez mais complicada. "Aritmeticamente, isso torna mais difícil a meta de o País ganhar pontos na classificação de risco. Só que, na prática, o momento é favorável do ponto de vista de apreciação da economia brasileira, que vem batendo recorde sobre recorde na queda do Risco País."

Para Baumann, três anos de crescimento acima de 1% "já foi um bom resultado". Mas, reconhece que "2005 deixou a desejar mesmo com o desempenho excepcional das exportações".

A avaliação do economista-chefe da consultoria Austin Rating, Alex Agostini, é menos complacente. "Em um ano marcado pela bonança internacional, o País conseguiu a façanha de ver sua taxa encolher para menos da metade em 2005, em relação à taxa de 2004 (4,9%), seguindo pela contramão do movimento observado nas demais economias", escreveu, no relatório da instituição.

Ele também atribuiu ao juros altos o resultado fraco, mas acredita que a crise política acentuou o mau desempenho porque trouxe incertezas. "A crise roubou pelo menos 1 ponto porcentual do crescimento. Novamente, o País foi assolado por seus próprios problemas: crise política, corrupção, juros elevadíssimos, carga tributária elevada, etc."