Título: Juro e câmbio levam a culpa
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2006, Economia & Negócios, p. B6

Para empresários, política monetária passa da medida

O Brasil está lado a lado com o Haiti, solidário até no medíocre crescimento, reagiu o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ao anúncio do aumento de 2,3% do Produto Interno Bruto. Representantes da indústria e do comércio declararam-se frustrados e culparam especialmente a política de juros pelo fraco desempenho da economia no ano passado.

Na opinião de Skaf, a teimosia do governo em manter os juros altos e não reduzir gastos públicos impediu o Brasil de crescer pelo menos na média dos demais países emergentes. "O Brasil, em prejuízo do crescimento sustentado, não pode continuar privilegiando uma errônea e acovardada política monetarista, baseada na premissa de um passado remoto de inflação, que não é mais realidade."

O economista da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo, lamentou o fato de o Brasil "perder espaço num momento em que o mundo cresce", ao lembrar que outros países emergentes registram expressivo crescimento.

O resultado do PIB confirma o efeito negativo dos juros altos sobre a economia, acrescentou o economista Paulo Mol, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), pra quem a política monetária restritiva tem efeitos adversos também nos investimentos das empresas. Para este ano, ele projeta crescimento econômico de 3,3%, com alta de 4,2% para o setor industrial.

O desempenho foi ruim, avaliou Mol, sobretudo quando comparado à expansão média da economia mundial, de 4%, conforme projeta o Fundo Monetário Internacional.

Para Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o resultado traz apreensão e desencanto para o setor industrial. "Embora a expansão da indústria tenha sido decisiva, sabemos que 2005 poderia ter sido triunfal, após o crescimento de 4,9% em 2004, não fosse a resistência das autoridades econômicas em manter a taxa real de juros acima de dois dígitos - a maior do mundo -, um câmbio que parece não ter mais piso e uma carga tributária insana."

Agora, afirmou Tabacof, "resta torcer para que o afrouxamento da política monetária, somado à expansão do gasto governamental num ano de eleições, possa trazer algum alívio para os setores produtivos da economia brasileira, fazendo de 2006 um ano melhor." De acordo com ele, ao se confrontar a expectativa média de crescimento dos países emergentes, em torno de 6,2% ao ano e, mais especificamente, a euforia que atualmente vivem países como Argentina, China e Índia, "fica a dúvida se, de fato, o Haiti não é aqui."

O gerente de Política Monetária do Banco Itaú, Joel Bogdanski, acha que o PIB até veio alto, "dado que o BC operou uma política monetária bastante restritiva", que inibiu os investimentos". Para este ano, ele projeta o PIB entre 2,5% e 3%, "supondo uma política monetária conservadora."