Título: 'Credibilidade da OMC está em jogo'
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2006, Economia & Negócios, p. B9

Opinião é de Lamy, diretor-geral da entidade, sobre a Rodada Doha

O que está em jogo na Organização Mundial do Comércio (OMC) não é uma simples negociação, mas a própria "credibilidade política" da instituição, principalmente se o objetivo for o reequilíbrio das trocas em favor dos países em desenvolvimento, afirmou ontem, em Paris, seu diretor-geral, o francês Pascal Lamy.

Se o sistema multilateral sair enfraquecido das negociações, as conseqüências serão negativas para os países mais pobres, que não terão condições de manter seus interesses. Para Lamy, a questão agrícola continua um obstáculo e ele está convencido de que os europeus terão de melhorar sua oferta. "Não sou eu quem dirá o que os europeus devem fazer, mas devo lembrar que a política comercial se decide pela maioria qualificada no interior da União Européia."

Lamy, numa em entrevista ao Le Monde, quando indagado se a Rodada Doha pode ser salva, explicou que a negociação retomou sua dinâmica, mas será preciso que as principais forças se movimentem. "A Europa deve fazer progressos em matéria de tarifas agrícolas, os norte- americanos, na redução de subsídios agrícolas, e o G-20, nos direitos alfandegários para os produtos industriais e serviços", acrescentou.

Sobre o protecionismo da França, ele admite um certo exagero. "Protecionismo sempre existiu. Hoje ele é menor, mas é mais visível. Trata-se , na verdade, de atitudes e gestos, não de atos concretos", observou.

O diretor define a posição da França como excessivamente defensiva na questão agrícola, mas lembra que o país consome 60% do que produz e exporta 40%, sendo três quartos para a Europa. "Não dá para compreender porque a França adota uma posição ultradefensiva."

Segundo ele, o grande mercado francês é o europeu e seus 400 milhões de consumidores, que ela precisa consolidar, mas para isso é preciso que os agricultores franceses tenham uma atitude agressiva em matéria de valor agregado e de qualidade.

Para Lamy, a globalização anda mais rápido que as mentalidades, sendo mais facilmente assimilada pelos trabalhadores. "A população é sensível às perdas dos empregos relacionados à emergência de novas economias, mas se esquece que os produtos são menos caros em razão da mundialização", diz.