Título: PF bloqueou transferências de US$ 500 mil
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2006, Metrópole, p. C1

A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) acreditam que começaram a desarticular ontem, na chamada Operação Carbono, esquema bilionário envolvendo comércio clandestino de pedras preciosas, principalmente diamantes. A inteligência da PF apurou que a quadrilha passou a atuar a partir da empresa Primeira Gema, Comércio, Exportação e Importação Ltda., com sede em Belo Horizonte e de propriedade de Hassan Ahmad. Segundo policiais, Ahmad nasceu em Serra Leoa, tem ascendência libanesa e possui passaporte belga. A Bélgica, aliás, é considerada destino de 95% dos diamantes contrabandeados. O restante seguiria para Alemanha e Israel.

A Primeira Gema foi fundada em 1999 e teve como sócia Vivianne Albertino dos Santos, dona da Vivianne Santos Classificação de Pedras Ltda., considerada atualmente a terceira maior exportadora oficial de diamantes em bruto do Brasil. "Ele (Ahmad) já teve uns sócios que, com o passar do tempo, foram se desvinculando dele, mas nunca deixaram de ser interligados", disse o delegado Alexandre Leão, que não soube precisar o total exato movimentado ilegalmente pela quadrilha. "Não temos como detectar, mas é um esquema bilionário."

Segundo o MPF, as investigações foram abertas a partir da descoberta, em 2003, pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), de operações atípicas de câmbio praticadas pela empresa de Vivianne.

Durante as investigações, o MPF conseguiu que fossem bloqueadas seis contas em paraísos fiscais no exterior, além de operações de transferência. "Os valores que conseguimos interceptar giravam, cada transação, em torno de US$ 400 mil ou US$ 500 mil", disse o procurador Patrick Salgado Martins.

A PF estima que Vivianne tenha movimentado no exterior por cerca de um ano aproximadamente US$ 1 bilhão. Além das transferências ilegais para paraísos fiscais, o dinheiro era lavado por meio de aquisição de imóveis e carros de luxo, cavalos de raça e gado.

As vultosas quantias movimentadas levaram à suspeita de que a quadrilha tinha como um dos objetivos financiar organizações terroristas. "Havia indícios no início da investigação de que a organização funcionava para financiar o terrorismo. Esses fatos ainda não restaram confirmados", disse Martins. O delegado da PF não confirmou nem negou a informação. "Não vamos comentar esse dado."

Os presos começariam ontem a ser ouvidos. Havia um mandado de prisão para Hassan Ahmad, que não havia sido cumprido até o início da noite. Por toda a tarde, o Estado tentou contato, sem sucesso, com representantes da Primeira Gema e da Vivianne Santos Classificação de Pedras, em Belo Horizonte. Advogados dos acusados também não foram localizados.