Título: CPI avalia convocar Jefferson para esclarecer esquema de Furnas
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2006, Nacional, p. A4

As revelações feitas por Roberto Jefferson (PTB) sobre o esquema de Furnas e a participação do PT, PTB e do PSDB na operação que, segundo ele, foi acertada pelo então ministro da Casa Civil José Dirceu - hoje deputado cassado - com o ex-diretor de Furnas Dimas Toledo provocaram reações dos parlamentares do governo e da oposição. Há, inclusive, o início de um movimento de defesa da reconvocação de Jefferson para depor à CPI dos Correios.

"Se ele (Jefferson) provocou a crise dizendo, muitas vezes, que cansou de hipocrisia, que diga tudo agora. Se ele realmente sabe mais, deveria ir novamente à CPI", defendeu o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

A reconvocação de Jefferson, o primeiro deputado cassado em razão do escândalo do mensalão que ele próprio denunciou, também é recebida com simpatia pelo líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). "Se ele tiver disposição em dar os nomes (dos parlamentares beneficiados com o esquema de Furnas) deve ir à CPI. Mas tem de ir e falar os nomes."

Integrante da CPI dos Correios, o deputado Maurício Rands (PE), disse que a reconvocação de Jefferson tem de ser estudada com os demais integrantes da comissão.

"Vamos debater, discutir com os companheiros e decidir com cautela", afirmou. Segundo Rands, a cautela tem de pautar a discussão sobre o possível retorno de Jefferson à CPI dos Correios por duas razões: "Primeiro, porque Jefferson disse verdades e mentiras. Segundo, porque estamos na reta final da CPI." E prosseguiu: "Tem de tomar cuidado para não marcar um monte de outros depoimentos."

Apesar da cautela ao comentar as novas declarações de Jefferson, publicadas ontem pelo Estado, Rands reconheceu que as afirmações do ex-deputado do PTB não podem ser "desprezadas".

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse não ter "nenhuma expectativa e nenhuma limitação" em relação à reconvocação de Roberto Jefferson pela CPI dos Correios. O senador disse ainda que os deputados que supostamente participaram do esquema de Furnas revelado pelo deputado cassado não são do PSDB.

Segundo Jefferson, o acordo feito entre Dimas Toledo, José Dirceu e ele previa a liberação de R$ 1,5 milhão por mês para o PT e quantia igual para o PTB, além de R$ 400 mil para as despesas de diretoria que o Dimas teria e outros R$ 600 mil para um grupo de 12 parlamentares tucanos.

"Esse grupo dos 12 que ele (Jefferson) fala não era exatamente de 12. Mas trata-se de um grupo de deputados que logo no primeiro ano do mandato do presidente Lula vieram nos falar que queriam votar a favor das reformas, e nós éramos contrários. Fizemos uma reunião, que inclusive foi em meu gabinete, e eles acabaram convidados a deixar o partido", explicou Virgílio. " Eles saíram imediatamente, há três anos", assegurou o líder do PSDB no Senado.

"Como era possível o PSDB ficar recebendo dinheiro e votando contra (o governo). É muito estranho", complementou Goldman.

Segundo o líder tucano no Senado, não é possível afirmar houve receptação de recursos de Furnas por parte do grupo dissidente do PSDB.

"O que se sabia é que o motivo pelo qual saíram era salvar águas brasileiras de Furnas. Eles tinham um diretor potencial que acabou depois sendo indicado", afirmou Virgílio.

No relato de Jefferson ao Estado , o deputado cassado disse que o ex-diretor da estatal o procurou em sua casa, em abril do ano passado, para propor a partilha em troca de sua permanência na diretoria de Furnas.

Entre os deputados que deixaram o PSDB àquela época estão Luiz Piauhylino (PDT-PE), Osmânio Pereira (PTB-MG) e Salvador Zimbaldi (PSB-SP).

Relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), demonstrou preocupação com as declarações de Jefferson e com uma possível reconvocação, alegando falta de tempo. O relatório vai ser apresentado em 15 de março. O prazo final para o encerramento da CPI é dia 11 de abril.

"Vamos aguardar o depoimento do Dimas na quarta-feira para definir os próximos passos", disse Serraglio. "Mas não é possível haver desprezo (das informações de Jefferson)", frisou. Na avaliação do relator da CPI, o ideal seria que Jefferson fosse ouvido em uma CPI específica do caso Furnas ou na CPI dos Bingos.