Título: Relação inclui até empresa que não existe mais
Autor: Expedito Filho e Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2006, Nacional, p. A6

A chamada "lista de Furnas", que alinha supostos repasses eleitorais a candidatos nas eleições de 2002, menciona, no chamado "documento 4", a Ciminas como uma das empresas que teriam feito doações a políticos. Mas a Ciminas deixou de existir como empresa desde 1996, quando seu controle acionário foi comprado pela Holdercim Brasil S/A, que, a partir de março de 2002 mudou sua razão social para Holcim do Brasil S/A.

A assessoria de imprensa da Holcim do Brasil S/A, uma empresa multinacional de fabricação de cimento e agregados que está no Brasil desde 1956, informou ontem ao Estado que desde a encampação da empresa pela Holdercim, em 1996, o nome Ciminas deixou de ser a razão social da empresa a passou a ser, tão somente, uma marca de cimento comercializada em Minas Gerais. O "documento 4" cita as duas - Holcim e Ciminas -, em locais diferentes, como contribuintes do suposto esquema de financiamento eleitoral em 2002.

INCONSISTÊNCIAS

Esta não é a única inconsistência apresentada pela "lista de Furnas". No "documento 3", o nome do ex-presidente de Furnas, Marcello Siqueira, está grafado como "Marcelino Siqueira". Ele, de fato, foi candidato nas eleições de 2002 e foi eleito deputado federal pelo PMDB-MG, mas é pouco provável que Dimas Toledo, que foi diretor da estatal sob a gestão de Siqueira e é apontado como autor da "lista", fosse grafar erradamente o nome de seu antigo superior.

Na segunda lista do "documento" disponível na internet, alinhando os nomes por partidos, "Marcelino" Siqueira está listado como sendo de partido "não identificado". Outro ex-presidente de Furnas, Francisco Luiz Gomide, também está listado no "documento 4" como um dos "deputados federais eleitos" que teriam sido beneficiados por repasses. Mas Gomide não foi, sequer, candidato nas eleições de 2002.

O mesmo "documento 4" também lista Luiz Paulo Veloso Lucas, ex-prefeito de Vitória, como outro dos "deputados federais eleitos" que teriam sido beneficiados por repasses. Segundo o "documento", ele teria recebido uma das maiores verbas (R$ 350 mil). Mas Veloso Lucas, igualmente, não foi candidato em 2002, tendo permanecido na prefeitura da capital capixaba até o final do seu mandato, em 2004.

Já o "documento 2" da lista disponível na internet menciona o deputado Danilo de Castro (PSDB-MG), um dos coordenadores da campanha eleitoral do PSDB em Minas, em 2002, como autor de repasses para a campanha do candidato a senador Hélio Costa, que é do PMDB e, naquela campanha, era ferrenho adversário do PSDB.

Além destas inconsistências, a "lista" apresenta erros grosseiros nas menções a partidos e a coligações. Da mesma forma, os nomes de vários deputados foram grafados com erros banais de ortografia que dificilmente um diretor de estatal cometeria.