Título: PT saberá cuidar da questão ética, reage Lula
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2006, Nacional, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rompeu, ontem, o silêncio dos últimos seis dias para responder à declaração de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, de que "a ética do PT é roubar". Em uma rápida entrevista a jornalistas brasileiros, ao concluir sua visita à comunidade de descendentes de escravos e mercados de escravos brasileiros, Lula afirmou que "não é obrigado a ler tudo o que determinadas pessoas falam".

Entretanto, respondeu pontualmente à questão levantada por FHC, hoje a voz mais contundente de oposição a seu governo. "Esse é um problema de que o PT saberá cuidar." Anteontem, o presidente havia passado próximo dessa questão, ao comentar que não deixaria que o "nervosismo eleitoral" o desviasse de sua atribuição de governar até o final de seu mandato, em 31 dezembro.

Na quarta-feira, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que o acompanha nesta quinta e última viagem pela África, tomou a frente e contra-atacou. Afirmou que FHC agira de forma "irracional", movido por "inveja e rancor", e que "usurpa o espaço" de outros políticos interessados em se candidatar à Presidência no seu partido, o PSDB, e no PFL. Recomendou ainda a Fernando Henrique o recato que adotou o também ex-presidente Fernando Collor de Mello, após seu impeachment.

Ontem, Lula voltou a afirmar que "não conversou com ninguém", ainda, sobre sua possível candidatura à reeleição e que não tem "nenhuma pressa" para fazê-lo. "Eu tenho de governar. Eu só queria pedir o seguinte: que as pessoas deixassem a gente governar", insistiu o presidente quando lhe perguntaram sobre a possível indicação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para coordenar sua candidatura.

Lula afirmou ainda que fará no último dia de seu mandato "uma avaliação das coisas que aconteceram no Brasil" durante seu governo. Voltou a dizer que plantou "sementinhas, que estão brotando e que, neste momento, está no período de colheita".

Para o presidente, a eleição deste ano é algo "circunstancial"; ela tem de estar "subordinada ao projeto de Nação" - e não o contrário. "Essa colheita pode incomodar as pessoas que não queriam que (o governo do PT) desse certo", afirmou. "Acontece que não estamos governando para os políticos, mas para o povo brasileiro."