Título: Peemedebistas vêem declarações de Dirceu com desconfiança
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2006, Nacional, p. A14

Peemedebistas de todas as alas estão de acordo com o deputado cassado José Dirceu em pelo menos um ponto: na afirmativa de que o PMDB será peça-chave em qualquer cenário pós eleições gerais de outubro. Os governistas, à frente o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP), concordam inclusive com a avaliação de que, "se o presidente Lula e o PT tiverem cabeça", devem se aliar ao PMDB para vencer e governar depois. As declarações de Dirceu foram publicadas ontem no Estado.

Mas nem este grupo vê em Dirceu um interlocutor confiável que deva ser procurado. Desconfiam até que as críticas ao presidente Lula, a quem o ex-ministro referiu-se como "conservador", sejam parte de um jogo combinado, em que procura separar sua imagem da figura do presidente.

O entendimento geral é de que Dirceu saiu "muito queimado" da crise e que não se reabilitará a ponto de ser novamente um interlocutor estratégico, por mais força que venha a ter no PT. Ao contrário dos expoentes da ala governista, que se recusaram a comentar a entrevista do ex-ministro, a ala da oposição, liderada pelo presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), desdenhou até da afirmativa que é consensual.

"Dirceu apenas constatou o óbvio ao reconhecer a força do PMDB", resumiu Temer. Em seguida, porém, ele contesta a "insinuação" de que o partido não terá candidato próprio à corrida presidencial. "Ou ele comete um equívoco de interpretação, ou está mal informado."

Os mais próximos de Dirceu fazem questão de lhe fazer justiça. Dizem que ele bem que se esforçou para selar, no início do governo, a aliança estratégica com o PMDB que ele prega agora.

Os peemedebistas que participaram das negociações para levar o partido "institucionalmente" para a base de apoio do Planalto no Congresso atestam que não foi Dirceu, mas o próprio presidente Lula, quem desfez o acordo sem aviso prévio, quando a cúpula do PMDB, com o apoio de todas as alas, já havia concordado em participar do ministério.