Título: Projeção indica vitória de Préval no 1.º turno
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2006, Internacional, p. A23

René Préval parecia estar perto de vencer o primeiro turno das eleições presidenciais do Haiti. Os funcionários eleitorais prosseguiam ontem a contagem dos votos, três dias após as eleições, que tiveram um alto comparecimento.

Préval, um ex-presidente e agrônomo que é muito popular entre os pobres, tinha 61,5% dos 282.327 votos apurados. Segundo funcionários da ONU, mais de 1,75 milhão de eleitores foram às urnas. Leslie Manigat, também um ex-presidente, tinha 13,4% dos votos e o empresário Charles Henri Baker, 6,1%.

Baker pediu ontem à comissão eleitoral que investigue as denúncias de fraude, alegando que algumas pessoas votaram mais de uma vez. Apesar das acusações, os observadores internacionais qualificaram as eleições de livres e justas.

Se Préval vencer, ele terá de iniciar imediatamente negociações com os partidos de oposição no Parlamento para escolher um primeiro-ministro. Ele também enfrentará o desafio de conter a violência das gangues que está fazendo com que muitos empresários deixem o país.

Essa desesperadamente pobre nação caribenha está envolta na anarquia desde que o presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto por uma sangrenta rebelião dois anos atrás. E o alto comparecimento às urnas mostra que os haitianos esperam uma maior estabilidade.

Préval, que evitou se declarar vitorioso, indicou que adotará um estilo não convencional. "Não me peça para usar gravata", disse a repórteres em sua casa no vilarejo de Marmelade.

Ele também lembrou de seus dias de juventude como um anarquista. "Ainda sou um", brincou, acrescentando que ele é contra a violência.

Préval também precisará ajudar a unir uma polarizada sociedade, dividida principalmente entre os poucos ricos e a maioria de pobres, em um país no qual as instituições inexistem ou são falhas.

Seu período de lua-de-mel será curto entre os que vivem nas favelas, onde a falta de oportunidade tem empurrado os jovens para as gangues que têm enfrentado as forças de paz da Nações Unidas, lideradas pelo Brasil, e seqüestrado centenas de pessoas para pedirem resgates.