Título: Resgate de dívida ajuda a criar clima de otimismo
Autor: Patrícia Campos Mello e Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

As medidas relacionadas à gestão da dívida pública anunciadas pelo governo - com destaque para o programa de recompra da dívida externa e a possibilidade de isenção tributária para o investidor estrangeiro - produziram uma nova onda de otimismo com o Brasil na qual pouca gente acreditava num ano eleitoral, depois da expressiva queda do risco país nos últimos meses.

Embora façam parte de um processo de administração do passivo público que se estende há anos - que entre outros avanços zerou a exposição cambial da dívida interna -, a sensação dos agentes financeiros é de que os anúncios mais recentes representam uma espécie de "cereja no bolo" deste trabalho de gestão. O resultado é uma mudança notável - e rápida - na percepção de risco do País.

"Essa operação 'desmonte do passivo do setor público' é um avanço macroeconômico e institucional só comparável à Lei de Responsabilidade Fiscal e às privatizações", afirma o diretor de Pesquisa Econômica do Bradesco, Octavio de Barros. Na opinião de Barros, essa mudança deve elevar o rating soberano do País no curtíssimo prazo e nesse ambiente o Brasil poderá alcançar facilmente o "investment grade" (grau de recomendação de investimento, pelas agências de risco) até o fim de 2007 ou começo de 2008.

"Esse é sem dúvida o caminho para o 'investment grade'", endossa o estrategista da ARX Investment, Sérgio Goldenstein. "A recompra é feita só com os recursos das reservas, o Banco Central pode continuar comprando dólar do fluxo comercial no mercado à vista, e assim se consegue reduzir o endividamento externo sem que isso implique queda no nível das reservas. Qual é o risco de um País com passivo externo próximo de zero e saldos gigantescos na balança comercial? Sem dúvida muito menor."

"Essa percepção de que há muita demanda para pouco papel não é de hoje, e já vem há algum tempo afetando o risco do Brasil. Com o programa de recompra anunciado ontem, isso ganha ainda mais força", relata o economista do JP Morgan no Brasil, Fábio Akira.