Título: Upgrade do Brasil não é automático
Autor: Patrícia Campos Mello e Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

A diretora de Ratings Soberanos da Standard & Poor's (S&P), Lisa Schineller, considerou o programa de recompra do governo brasileiro um sinal de "prudência" que pode melhorar o perfil da dívida brasileira.

Para a executiva, a recompra é uma sinalização comparável ao pagamento adiantado feito ao Fundo Monetário Internacional no ano passado. "A recompra pode ter implicações no perfil de amortização da dívida e, certamente, é um bom sinal de prudência que o governo mostra."

Segundo Lisa, entretanto, o programa por si só não justifica o "grau de investimento", uma vez que a agência acompanha mais o indicador de dívida líquida, bem como outros itens, como um crescimento maior que o dos últimos anos e a realização de reformas, como as da Previdência e a sindical.

O vice-presidente e economista para a América Latina da Moody's, Mauro Leos, afirmou que a recompra é mais um fator em favor da perspectiva positiva que a agência classificadora de risco mantém para o rating do Brasil.

"É nossa visão que os acontecimentos recentes estão em linha e apóiam nossa perspectiva atual para o Brasil", disse Leos. Entre estes acontecimentos, ele destacou o pagamento da dívida com o FMI, o crescimento das exportações e a possível alteração no tratamento fiscal para os estrangeiros.

A Moody's tem perspectiva positiva para a classificação brasileira desde 12 de outubro de 2005, quando elevou o rating do Brasil de B1 para BA3. Segundo representantes da Moody's, na média, a agência tem alterado a nota de um país cuja perspectiva seja positiva ou negativa num prazo de 18 meses.

Na avaliação do chefe de Ratings Soberanos da América Latina da Fitch Ratings, Roger Scher, a recompra caminha na direção correta para a melhora dos fundamentos de crédito do País e, em conseqüência, para a avaliação de risco do Brasil. Segundo ele, para melhorar as perspectivas de "upgrade" do Brasil, é preciso manter juros mais baixos e crescimento maior do PIB, o que ajudaria na dinâmica da dívida pública. Também ajudariam a manutenção de elevados saldos comerciais e a expectativa de continuidade na política econômica, em termos de política monetária e disciplina fiscal, no próximo governo.