Título: Credores da Varig adiam assembléia
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2006, Economia & Negócios, p. B17

A assembléia de credores da Varig, convocada para votar a íntegra do plano de reestruturação e o contrato dos Fundos de Investimento em Participações (FIPs), foi adiada de segunda-feira, dia 13, para o dia 23. A estratégia foi fechada ontem, durante reunião com os principais credores, porque ainda não há consenso sobre o projeto, concluído e apresentado na terça-feira.

A reunião do dia 13 terá quórum e será aberta, mas será suspensa e adiada para quinta-feira da semana seguinte. "Há uma série de detalhes no plano que precisam de ajuste fino. Queremos chegar a um consenso para a assembléia do dia 23", afirma o diretor-financeiro do maior credor privado da Varig, o fundo de pensão Aerus, Rudolf Pfeiffer. Um dos pontos incertos do projeto, diz ele, é a administração do FIP Controle, principal estrutura do plano e que vai reunir as ações da Varig, Rio Sul e Nordeste.

A idéia é criar um comitê gestor do FIP Controle, integrado por quatro administradores. O Aerus, no entanto, entende que deve haver um gestor profissional, conforme o plano original. "Está se criando um comitê e tirando funções do gestor", considera Pfeiffer. O Aerus já indicou dois nomes para administrar o FIP Controle: as consultorias de gestão Galeazzi e Íntegra, esta última responsável pela gestão da Parmalat.

CRÍTICAS AO FIP

A pedido do conselho de administração da Varig, o advogado Luiz Leonardo Cantidiano, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), fez uma análise do plano dos FIPs e apontou diversas falhas. Segundo fontes, Cantidiano, responsável por introduzir na CVM a regra que cria os FIPs, criticou a falta de isonomia entre credores e a falta de transparência. Segundo as fontes, Cantidiano teria dito ainda que a falta de consistência do plano dá margem a fraudes. O parecer teria desagradado o presidente da Varig, Marcelo Bottini.

Cantidiano confirmou ter dado o parecer, mas não entrou em detalhes. Disse apenas acreditar que os FIPs são um grande instrumento para ajudar empresas em recuperação a encontrar novos investidores. Antônio Luís de Mello e Souza, sócio-diretor da administradora ASM Asset Management, responsável pelo plano, disse desconhecer as críticas. "Não sei do que se trata", disse, ressaltando que o plano é inspirado no "mais alto nível de governança corporativa do mundo". "Estamos buscando o caminho do consenso dos interesses de todos os credores e estamos próximos disso."