Título: Dresdner Bank, o preferido dos nazistas
Autor: Mark Landler
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2006, Economia & Negócios, p. B7

Banco financiou o campo de extermínio de Auschwitz

O Dresdner Bank ajudou a financiar a construção do campo de extermínio de Auschwitz e era o banco preferido dos temidos paramilitares da SS de Hitler, segundo um relatório independente sobre as operações do banco alemão durante a era nazista divulgado há uma semana em Berlim.

As revelações no relatório de 2.400 páginas não são inteiramente novas, mas servem como um lembrete direto de que o Dresdner Bank, um dos maiores bancos alemães, foi um apoiador entusiástico de primeira hora dos nazistas, beneficiando-se dos laços pessoais entre seus banqueiros e comandantes da SS.

"Sem a ajuda do banco, a SS não poderia ter construído sua ampla rede de interesses comerciais", disse Harald Wixforth, um historiador da Universidade do Ruhr em Bochum que escreveu um dos quatro volumes do relatório. "O Dresdner Bank participou de muitas maneiras nos crimes da era nazista."

Mais notoriamente, o Dresdner financiou e teve uma participação acionária em uma empresa que construiu alguns dos crematórios no campo de Auschwitz na Polônia.

Wixforth disse que banqueiros do Dresdner estavam inteirados da finalidade do campo e encorajaram a companhia a aceitar o contrato.

O Dresdner Bank é a mais recente de várias empresas alemãs a contratar estudiosos de fora para pesquisar sua história na época da guerra.

Volkswagen, Deutsche Bank e Bertelsmann divulgaram estudos semelhantes, enquanto o Commerzbank deve publicar a última parte do seu relatório no próximo ano.

No caso do Dresdner, este ato público de reconhecimento é também uma resposta às críticas desmoralizadoras do banco por sobreviventes do Holocausto em 1997, quando o banco quase apagou o Terceiro Reich de sua comemoração de 125º aniversário. O ex- executivo-chefe Jürgen Sarrazin relegou os negócios do banco com os nazistas a uma única frase num extenso discurso.

Falando em Berlim, recentemente, o atual executivo-chefe, Herbert Walter, disse que as críticas à memória seletiva do banco eram justificadas. "O Dresdner Bank se ressentiu", disse ele. "Foi um despertar tardio."

Como outros grandes bancos alemães, o Dresdner tentou, com altos e baixos, se refazer como uma instituição financeira global. Em 2000, ele adquiriu a Wasserstein Perella & Company, um banco de investimento de Nova York.

Um ano depois, a gigante de seguros de Munique, Allianz, adquiriu o Dresdner.

Nos últimos anos, o Dresdner melhorou sua imagem levantando dinheiro para reconstruir a Igreja de Nossa Senhora destruída pelos aliados no bombardeio aéreo de Dresden, sua cidade natal, em fevereiro de 1945.

Mas o passado do banco na guerra o perseguia. Pouco depois de sua polêmica celebração de aniversário em 1997, o Dresdner contratou quatro historiadores, chefiados por Klaus-Dietmar Hanke, para vasculharem seus arquivos, no país e no exterior, e documentar o envolvimento do banco com organizações nazistas.

O projeto exigiu seis anos de pesquisa e um sétimo para escrever.

Wixforth disse que visitou 35 arquivos na Alemanha, Polônia e República Checa para seu volume da série, que aborda a expansão do Dresdner fora da Alemanha durante o Terceiro Reich.

"Este é, de longe, o estudo mais detalhado de qualquer empresa alemã durante o período nazista", disse ele.

O Dresdner demonstrou sua fidelidade ao Partido Nazista desde o começo, quando expurgou banqueiros judeus e pôs dois membros do partido em seu conselho de administração.

A principal ligação do banco com a SS foi Oswald Pohl, um alto comandante da SS encarregado de suas atividades econômicas, que incluíam retirar e vender os bens pessoais dos judeus trazidos para os campos de concentração.

Os laços do Dresdner com a SS eram conhecidos há tempo, mas Wixforth disse que os pesquisadores descobriram registros de transferências de dinheiro que demonstram a extensão dos vínculos.

O banco emprestou à SS mais de 47 milhões de marcos, ajudando-a acumular interesses em pedreiras e na manufatura de porcelana.

Dois anos atrás, disse Wixforth, os pesquisadores descobriram evidências do papel do Dresdner em Auschwitz. O banco possuía uma participação de 26% numa empresa de construção da época, a Huta Hoch- Tiefbau, contratada para a construção de crematórios no campo na Polônia.