Título: Ao lado dos canaviais, bomba parece 'taxímetro'
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

No posto Martinez, em Ribeirão Preto, ao lado da maior concentração de canaviais e usinas do mundo, o preço do álcool não pára de subir. Pela quinta vez este ano, o encarregado Claudineu Orlandini Júnior teve de alterar os valores nas bombas. "Parece até taxímetro", observou. É verdade que, numa delas, foi para baixar o preço, de R$ 1,55 para R$ 1,50 o litro. "Foi quando o governo acertou um acordo com os usineiros." Só que durou pouco, segundo ele. Dias depois, o litro de álcool voltou a R$ 1,60 e, na última quarta-feira, saltou para R$ 1,69.

Na sexta-feira, o álcool da distribuidora chegou mais caro e ele aguardava ordem para nova alteração. Orlandini conta que quem mais reclama não são os proprietários de carros a álcool ou bicombustível. São, sim, os donos de carro a gasolina, acostumados a fazer o chamado "rabo-de-galo". Para cada R$ 20 de gasolina, mandam pôr R$ 10 de álcool. Quem chega ao volante de carros mais velhos, como Passat, Brasília e Fusca, faz a mistura meio a meio. Já a maioria das motos, segundo o encarregado, só consome álcool. "Só as mais novas e possantes usam gasolina." Tem também os "xeroflex", carros adaptados em oficinas para andar com álcool misturado ao "cheiro" de gasolina. Ninguém sabe o quanto representa esse segmento no consumo de álcool.

Para o usineiro Maurílio Biagi Filho, é um consumo invisível, que ainda precisa ser dimensionado. Ele lembra que os carros flex devem deixar de usar só álcool, se o preço desse combustível subir demais. "A opção está nas mãos do consumidor."

A presidente do Sincopetro, Ivanilde Vieira, diz que o "rabo-de-galo" só é significativo quando a diferença de preço entre o álcool é muito grande. Não é o que pensa o vidraceiro Cláudio Rodrigues Bonfim, de Sertãozinho. No tanque do Voyage, mandou pôr 8 litros de gasolina a R$ 2,68 e 7 de álcool. "Economizo quase R$ 7,00 e rodo a mesma coisa."