Título: R$ 200 para saber mais sobre Platão, Aristóteles...
Autor: Simone Iwasso
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2006, Vida&, p. A13

Quinta-feira à noite e homens de gravata, mulheres maquiadas, senhoras que chegam em dupla e jovens casais se concentram na aula sobre os pré-socráticos. Na segunda semana do curso "Os Pensadores", eles são exemplos do interesse que a filosofia tem despertado em aulas, debates, cafés filosóficos, programas de televisão e escolas de ensino médio - uma curiosidade que se manifesta de maneiras diferentes em cada setor da sociedade. "A filosofia tem um apelo natural, porque tem o apelo da busca da felicidade", analisa o professor Roberto Bolgani Filho, que se divide entre seus alunos na Universidade de São Paulo (USP) e na Casa do Saber, escola especializada em cursos para leigos, ministrados por acadêmicos.

São empresários, profissionais liberais, aposentados e estudantes que pagam cerca de R$ 200 por mês para conhecerem mais sobre Platão, Aristóteles, Descartes, Kant, Spinoza e Nietzsche, entre tantos outros. No intervalo, uma aluna conta que leu O Mundo de Sofia (Cia. das Letras, 560 páginas, R$ 32,70), de Jostein Gaarder, best-seller sobre a história da filosofia, mas que agora vai para Convite à Filosofia (Ática, 424 páginas, R$ 49,90) de Marilena Chauí.

"Filosofia não é remédio, não é simplificação, não é auto-ajuda. Tem dificuldades que a gente não pode tentar esconder. Na USP eu tenho de formar pesquisadores. Aqui, são pessoas que buscam informação. Essa é a única diferença. Não se pode fazer concessões nas aulas", diz.

O ato de pensar, e pensar humanisticamente e em algo não relacionado à profissão, é o que levou a arquiteta Ana Carolina Albuquerque, de 32 anos, às aulas. "Sentia muita falta de profundidade na minha vida. E aqui é a hora que eu vou pensar nisso, em coisas que não são para meu trabalho, para minha carreira, para aplicação imediata. São só para mim."