Título: 'Os acadêmicos não são donos do conhecimento'
Autor: Simone Iwasso
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2006, Vida&, p. A13

Entrevista Lou Marinoff, filósofo, professor e escritor canadense

Lou Marinoff é um professor de filosofia que escreveu um best-seller e fundou uma modalidade de atendimento filosófico. Alvo de críticas, que apontam que seus escritos são auto-ajuda e não filosofia, ele se defende dizendo que os "acadêmicos não são donos do conhecimento". Antes de chegar ao Brasil, onde participará da Bienal do Livro e divulgará sua segunda obra, Pergunte a Platão (Editora Record, 480 páginas, R$ 49,90), o filósofo falou ao Estado por telefone.

Para o senhor, qual a diferença entre os seus livros e a auto-ajuda?

A auto-ajuda é uma invenção americana e seus leitores precisam de um livro diferente a cada semana. Eles ajudam por um dia, mas não resolvem o problema, fazem com que a pessoa na outra semana procure outro livro. Isso não me parece muita ajuda. O que eu escrevo é filosofia pop e parece durar mais. Quem lê meu livro se sente melhor por mais tempo. Agora, os acadêmicos, que são os meus críticos, e isso porque eu também sou acadêmico, querem um diálogo fechado entre eles, sem participação das pessoas. Mas eles não são donos da filosofia, ela pertence a todo mundo.

O que caracteriza essa sua filosofia pop?

É pop de popular, no sentido de que muita gente pode se beneficiar deles, lê-los e entendê-los. Pop para mim significa que atinge muitas pessoas e que não precisa ser somente para quem está estudando numa universidade. É uma questão de escrever de um jeito diferente para um público diferente, que não seja o estudante universitário. Um bom professor deve saber fazer isso, transmitir o conhecimento para todo tipo de aluno, mesmo que não tenha tanta formação ou não conheça tanto sobre o assunto.

E como conheceu esse trabalho de aconselhamento?

No anos 90, eu fazia debates sobre ética profissional na British Columbia University, no Canadá. As pessoas começaram a freqüentá-los e, com o tempo, nos procuravam para perguntar sobre seus dilemas pessoais, não só sobre suas profissões, os questionamentos nas empresas. Ligavam no centro e pediam para falar com um filósofo. Percebi que alguma coisa estava acontecendo e que aquelas pessoas estavam descobrindo a filosofia na vida delas. A partir disso, fomos criando uma rede de filósofos que se especializaram em atender a essas demandas das pessoas e que hoje já conta com mais de 500 em todo o mundo.

Com isso, o filósofo não está ocupando o espaço de um terapeuta, que tem uma formação própria para atender e que trabalha embasado em um corpo teórico, com um método?

Alguns conselheiros não têm método nenhum mesmo, trabalham a partir da vida das pessoas. Para cada uma, escolhem uma linha mais apropriada. Por exemplo, muitos gostam do método socrático, de perguntas, questionamentos. Mas isso, de não ter método, não é um problema. As pessoas buscam uma experiência filosófica e não precisam de método para isso. Nem todos precisam tomar medicamentos, antidepressivos, calmantes, muitas pessoas podem resolver seus problemas entendendo como pensam e por que pensam desse jeito.

Mesmo sem um método, há filósofos que fazem mais sucesso entre os clientes?

Não sei se há filósofos mais fáceis. Mas há os que acabam sendo mais atraentes. Nietzsche, pela radicalidade de seu pensamento e pela forma como escreve, sempre faz muito sucesso, principalmente entre jovens.

Seus clientes não ficam desapontados porque buscam respostas e se deparam com perguntas?

Sim, isso acontece, porque pessoas querem respostas prontas. Muitos clientes já passaram pela auto-ajuda e buscam a filosofia porque não encontraram as respostas que buscavam. Mas, elas acabam indo para a religião, porque lá conseguem todas as respostas. Nós, filósofos, não temos respostas para as pessoas, mas as ajudamos a fazer as perguntas que são importantes para elas.