Título: EUA enviam o último telegrama
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2006, Internacional, p. A12

Tecnologia sepulta os telégrafos, que revolucionaram as comunicações no início do século 19

"Sra. Sandoval", disse Homer Macauley, "Seu filho está morto. Talvez seja um engano. Talvez não seja o seu filho. Talvez seja uma outra pessoa. O telegrama diz que foi Juan Domingo. Mas talvez o telegrama esteja errado." No início do século 19, o telegrama era a forma mais imediata de distribuir notícias e enviar mensagens. Quer fosse um daqueles terríveis "lamento informar" do Departamento de Guerra que o personagem Homer de William Saroyan entregou em A Comédia Humana, pedidos de "envio de dinheiro" ou congratulações pelo aniversário, a entrega em mãos desses envelopes amarelos sempre pareceu importante. Nesse mesmo espírito, o evangelista Billy Graham cita: "Sou apenas um mensageiro da Western Union, entregando um telegrama de Deus na porta da humanidade."

Em 1929, a Western Union e seu exército de mensageiros uniformizados enviaram mais de 200 milhões de telegramas. Mas, no ano passado, esse número tinha caído para 21 mil. Dobrando-se ao poder do e-mail e outras tecnologias, a empresa expediu seu último telegrama há algumas semanas. Em países ricos, as poucas empresas que permanecem no ramo têm seus dias contados.

A seguir, uma amostra de várias missivas famosas, infames e apócrifas compiladas de várias fontes, entre elas Telegram, livro de Linda Rosenkrantz. Acredita-se que o inventor do telégrafo, Samuel Morse, enviou seu primeiro telegrama oficial do Capitólio em Washington para Baltimore em 1844: "O que Deus fez."

Na manhã de 15 de abril de 1912, acredita-se que o Titanic tenha enviado sua última mensagem sem fio: "SOS, SOS, Titanic. Estamos afundando rapidamente. Passageiros estão sendo postos em barcos." O telegrama logo foi absorvido pela cultura popular americana, surgindo em momentos cruciais de peças de teatro e filmes. Em 1933, a Western Union lançou o telegrama cantado que se converteu na fonte de uma famosa piada: Uma mulher, encontrando um mensageiro da Western Union na sua porta, exclama: "Maravilha, sempre quis um telegrama cantado". "Não, é apenas um telegrama comum", responde o mensageiro. Diante da insistência da mulher, o mensagem finalmente canta: "Lá, lá, lá-iá. Sua irmã Rose morreu."

Os escritores, é claro, dizem as coisas mais inteligentes. O humorista Robert Benchley ao chegar a Veneza pela primeira vez, enviou um telegrama para Harold Ross, diretor de redação do The New York Times: "Ruas alagadas. Por favor, envie instruções." Mark Twain, como a maioria dos escritores, achava mais fácil escrever um texto mais longo do que curto. Ele recebeu o seguinte telegrama do seu editor: "Preciso conto 2 páginas dois dias." Twain respondeu: "Não posso fazer 2 páginas dois dias. Posso fazer 30 páginas dois dias. Preciso 30 dias para fazer 2 páginas."

Uma famosa história de telegrama é aparentemente um mito. Em 1897, William Randolph Hearst enviou Frederick Remington para ilustrar as atrocidades espanholas em Cuba, mas Remington não encontrou nenhuma. "Tudo está calmo. Não há problemas aqui. Não haverá guerra." Ao que Hearst supostamente teria respondido: "Você fornece as ilustrações, e eu fornecerei a guerra."

Um telegrama mais extenso foi enviado em 1950 ao então presidente Harry Truman pelo senador Joseph McCarthy: "Tenho em meu poder os nomes de 57 comunistas que estão atualmente no Departamento de Estado." O presidente rascunhou uma resposta: "Tenho certeza de que o povo de Wisconsin lamenta muito estar representado por uma pessoa que tem tão pouco senso de responsabilidade como você." John F. Kennedy brincava sempre que havia recebido um telegrama de seu pai: "Não compre nenhum voto além do necessário. Detestaria ter de pagar por uma derrota arrasadora."Telegramas também serviram para corrigir erros. Quando Mark Twain soube que seu obituário havia sido publicado, enviou um telegrama de Londres em 1897. "Notícias da minha morte são grandemente exageradas."

Em 1884, um reunião de biólogos irrompeu em vivas quando um telegrama lhes informou que um grande mistério havia sido resolvido: os ornitorrincos punham ovos. A notícia foi dada em latim. "Monotremes oviparous, ovum meroblastic." Edward Teller enviou um telegrama a colegas de Los Alamos sobre a detonação da bomba de hidrogênio: "É um menino."

Tanto Mark Twain como Arthur Conan Doyle teriam enviado telegramas parecidos para uma dezenas de homens importantes e todos eles fizeram as malas e deixaram a cidade imediatamente. "Fuja imediatamente. Foi tudo descoberto." O telegrama mais curto da história é atribuído ao escritos inglês Oscar Wilde. "?", enviou ao seu editor, para perguntar sobre as vendas de um de seus livros. Na resposta, o editor igualou o recorde: "!", indicando a grande vendagem.