Título: Auxiliares querem que Lula escolha equipe da campanha já Lula passa o carnaval em Marambaia
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2006, Nacional, p. A9

Eles vão pedir ao presidente que comece a montar a coordenação em março, não em maio

O presidente Lula chegou ontem no fim da manhã à Restinga da Marambaia, onde vai passar o feriado de carnaval acompanhado da família. A Marinha montou forte esquema de segurança, com apoio de uma fragata e duas lanchas. Embarcações que tentam se aproximar da praia são abordadas e orientadas a retornar. No local há instalações do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. A assessoria do Planalto não divulgou informações sobre a programação do presidente, alegando tratar-se de agenda privada. A previsão é de que Lula volte a Brasília na terça-feira. LEONENCIO NOSSAMinistros e antigos auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vão pedir-lhe, depois do carnaval, que comece a montar já a coordenação de sua campanha para um segundo mandato - embora, por questão estratégica, o anúncio oficial da candidatura fique apenas para junho. Mas, ao que tudo indica, não terão sucesso. Lula tem dito que não vai definir antes de maio o comitê da reeleição.

"Não é hora de fazer isso mesmo", afirma o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). "Ele não vai tratar do comando da campanha antes de promover as mudanças no ministério e em março o tema é esse", completa o governador do Acre, Jorge Viana.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já disse, porém, que Lula não deve deixar todos os assuntos relativos à campanha para o prazo fatal, entre maio e junho. "Acho um pouco tarde", avalia Palocci, que fala com conhecimento de causa, pois em 2002 chefiou a equipe do programa de governo. A idéia de colaboradores do presidente é convencê-lo a delegar tarefas. "Essa campanha vai ser sanguinolenta e precisamos nos preparar", reforça o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Em conversas reservadas nos últimos dias, Lula avaliou que o relacionamento do governo com a cúpula do PT melhorou muito desde o início do ano. Espera agora que o 13º encontro nacional do partido, no fim de abril, que vai aprovar o perfil das alianças e as diretrizes de seu programa de governo, não lhe cause dor de cabeça. Se dependesse do presidente, a reunião petista - que tem alto potencial explosivo - seria adiada para junho. O PT, porém, não admite essa possibilidade.

"Não podemos brigar entre nós, como o PSDB", tem dito Lula. "Vamos propor que o PT fume o cachimbo da paz, em nome da reeleição", concorda o secretário-adjunto de Organização do partido, Francisco Campos, coordenador do encontro.

No Planalto, há quem defenda um novo modelo de comando para a campanha, com uma espécie de colegiado, já que se trata de disputa para a reeleição. O próprio presidente mostrou simpatia pela proposta de um triunvirato para substituir José Dirceu, o ex-ministro da Casa Civil que chefiou sua campanha em 2002, quando presidia o PT.

ARRECADAÇÃO

Uma coisa é certa: para evitar problemas, a estrutura da arrecadação de recursos será diferente. "Nós vamos separar as finanças do partido do dinheiro de campanha", conta o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira. Até agora, no entanto, existe só o discurso de boas intenções e ninguém sabe como aplicar a teoria na prática. Com a antiga cúpula do PT dizimada pelo escândalo do mensalão, Lula perdeu auxiliares com os quais sempre contou em disputas anteriores, como Dirceu, José Genoino, Sílvio Pereira e Delúbio Soares.

Do time que já esteve com ele sobraram, além de Palocci, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, o assessor de Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, o ex-ministro Tarso Genro e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Mas o senador está fora porque quer concorrer ao governo paulista. Da turma do passado resta ainda Luiz Gushiken, que foi envolvido nas denúncias e hoje dirige o apagado Núcleo de Assuntos Estratégicos. É amigo de Lula e pode ser resgatado para o comitê da reeleição.