Título: Bando rouba armas em quartel
Autor: Rodrigo Morais
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Metrópole, p. C6

Sete criminosos armados, usando uniformes camuflados e toucas ninja, invadiram um quartel do Exército, agrediram militares e roubaram armas na madrugada de ontem. O grupo atacou o Estabelecimento Central de Transportes (ECT), em São Cristóvão, zona norte, às 3h50, e dominou os sentinelas da unidade. Na ação, três militares foram agredidos na cabeça com coronhadas, sem ferimentos graves. Um tiro foi disparado contra a porta de um armário que guardava armas: dez fuzis FAL 762 e uma pistola foram roubados. Os ladrões fugiram em vários carros.

No fim da tarde, o Exército e a Polícia Militar realizaram operação de busca e apreensão no complexo de favelas do Alemão, na zona norte. Participaram duas companhias do 1º Batalhão de Polícia do Exército (PE) e 30 policiais do 16.º Batalhão da PM (Olaria). Uma equipe do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM foi colocada de prontidão.

Na primeira quinzena de fevereiro, um cabo foi morto com um tiro de fuzil em uma operação no Morro do Vidigal, em São Conrado, zona sul. Paulo Roberto Cavalcanti, de 35 anos, integrava um grupo de quatro militares da PE que foram à favela verificar informações de que havia armamento de uso exclusivo das Forças Armadas no local. Em dezembro, um fuzil FAL 762 foi recuperado pelo Exército na favela da Maré.

Um Inquérito Policial-Militar (IPM) foi aberto e os soldados que estavam no quartel prestaram depoimento. O crime não foi registrado na 17ª Delegacia Policial (São Cristóvão). "O inquérito é do Exército, mas sempre que for preciso pediremos a ajuda da polícia", disse o coronel Fernando Lemos, porta-voz do Comando Militar do Leste (CML).

NOTA

Em nota, o Exército afirmou não ter informações sobre como os bandidos entraram no quartel, mas que provavelmente o grupo pulou o muro, apesar do arame farpado que cerca o ECT. "Pelo portão não foi", disse Lemos. O inquérito vai analisar imagens das câmeras de vigilância da unidade, mas as toucas ninja devem impedir a identificação dos ladrões. Lemos disse que eles conheciam o local. "O pessoal entra camuflado e com touca ninja. Para que a touca? Depois vai direto ao local que tem armamento", indagou.

O coronel contou que havia pelo menos dez soldados e um sargento no quartel. Parte estava de guarda e os demais descansavam na hora do crime. A participação de militares é uma das hipóteses investigadas pelo IPM. "Quando fazemos a guerra de papel (treinamento), pintamos de azul as nossas tropas e de vermelho o inimigo. Mas o pior inimigo é o azul. Contra esses é difícil uma ação preventiva", argumentou Lemos.

Pela manhã, a PM apreendeu um lança-mísseis de cano duplo, sete granadas e três revólveres, após tiroteio com traficantes do Morro do Caramujo, em Niterói. Ninguém foi preso. Os policiais recolheram maconha, cocaína e roupas camufladas do Exército.