Título: Juro vai cair 0,75, aposta mercado
Autor: Francisco Carlos de Assis e Célia Froufe
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), deverá encerrar a reunião de março na quarta-feira, anunciando um corte de 0,75 ponto porcentual na taxa nominal de juros (Selic), que passará dos 17,25% ao ano para 16,50%. É o que espera a maioria das instituições financeiras ouvidas pela Agência Estado: 55 das 62 empresas consultadas.

Se confirmada a previsão, a Selic será reduzida em 0,75 ponto porcentual pela segunda vez consecutiva desde que começou o ciclo de afrouxamento da política monetária, em setembro do ano passado. Será o menor nível de juros desde setembro de 2004, quando a taxa básica era de 16,25%. Seguiram-se nove meses de altas até o pico de 19,75% em maio do ano passado. Ficou neste patamar até agosto de 2005.

Para os analistas, existe espaço até para um corte maior, de 1 ponto porcentual. Muitos admitem que não haveria risco para economia se o BC quisesse promover um corte maior da taxa de juros. Trabalham com esta possibilidade já para a reunião deste mês sete instituições do total consultado.

O cenário é extremamente benigno: o câmbio está em queda, ameaçando ficar abaixo dos R$ 2,00; a liquidez internacional é abundante e a inflação está sob controle, apesar dos aumentos nos preços dos combustíveis, por causa do álcool.

Para o diretor da Tesouraria do Banco Pine, Paulo Torres, deverá prevalecer o gradualismo histórico do BC, de olhar para o longo prazo e valorizar os efeitos cumulativos. Ele está entre os prevêem redução de 0,75 ponto porcentual e vai além: as planilhas do Pine, diz, contemplam mais duas reduções de 0,75 ponto porcentual, o que levaria a Selic a uma taxa de 15% na metade do ano.

O economista-chefe da ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, também espera mais três quedas de 0,75 ponto porcentual da Selic e uma redução de 0,50 em julho, para 14,5% ao ano. Para ele, a Selic neste patamar estaria perfeitamente compatível com o centro da meta de inflação para 2006, de 4,5%, com 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo. A economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, concorda e acredita que a expectativa dos analistas para o IPCA, a ser divulgada segunda-feira, já deverá ser revista para baixo.

Na avaliação do diretor-financeiro do BicBanco, Aury Luiz Ermel, a probabilidade de o Copom promover um corte de 0,75 ponto porcentual na Selic agora em março é de 70%. O grande desafio, diz ele, é saber se com uma taxa de juros apontando para 14,5% no final do ano, o BC conseguirá controlar a inflação. O sócio da Rosenberg & Associados, Michal Gartenkraut, diz que se recomendaria ao Copom a redução de 1 ponto porcentual. "Mas considerando o comportamento do BC, acho difícil um corte superior a 0,75 ponto porcentual."

DEZEMBRO

A taxa básica de juros deverá ser, em dezembro, a menor desde 1999, quando foi implantado o sistema de metas de inflação. Um grupo de 49 analistas consultados pela Agência Estado prevê variações de 13,50% e 15,75% ao ano ao final de 2006. Só duas instituições esperam uma taxa superior ou idêntica à de 15,25% ao ano registrada em janeiro e fevereiro de 2001.

Para se concretizar o intervalo previsto pelos analistas do mercado, a Selic deverá sofrer, portanto, uma redução de 1,50 a 3,75 pontos porcentuais até o final do ano.

As previsões podem até divergir nos detalhes, mas concordam na essência: o cenário macroeconômico, tanto do ponto de vista externo quanto do doméstico, é composto por fundamentos que favorecem a implementação de uma política monetária cada vez mais cadente.