Título: IBGE mostra estragos do juro e câmbio na produção
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Economia & Negócios, p. B3

Os dados abertos do Produto Interno Bruto relativos à indústria de transformação no quarto trimestre de 2005 mostram o efeito devastador dos juros e do câmbio sobre diversos segmentos. A maior queda observada pelo IBGE no quarto trimestre ante igual período de 2004 ocorreu em artigos de vestuário (-11,6%), com o aumento da concorrência de produtos importados em conseqüência do dólar baixo.

Do lado dos investimentos, os juros elevados, mesmo em trajetória de queda, afetaram o segmento de fabricação e manutenção de máquinas e equipamentos (-4,7%). Além disso, a quebra da safra agrícola no Sul do País prejudicou os fabricantes de adubos até o final do ano, e o PIB relativo a esse segmento mostrou queda de 9%.

O economista Paulo Mol, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), atribuiu aos juros altos os problemas enfrentados pelos segmentos da indústria de transformação, e observou que esses segmentos dependem de um desempenho mais forte da economia para crescer. "O ano passado não foi bom, com juros muito altos, e mesmo com a redução dos juros no quarto trimestre, a recuperação da indústria de transformação será gradual", disse. Ele acrescentou que enquanto a indústria extrativa mineral está mais desvinculada da demanda interna, alguns segmentos da transformação dependem muito da atividade doméstica.

As quedas apuradas no cálculo do PIB do IBGE chegaram a muitos outros setores da indústria de transformação: laminados de aço (-3,5%), outros produtos metalúrgicos (-3,5%), outros veículos e peças (-3,6%), madeira e mobiliário (-4,1%), produtos derivados da borracha (-6,2%), óleos combustíveis (-1,1%), produtos petroquímicos básicos (-8,7%) e carne bovina (-1,8%).

A gerente de contas trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, observou que parte dos segmentos da indústria de transformação que registraram queda no quarto trimestre coincide com os mesmos grupos que foram destaque de importações em 2005, o que mostra o efeito negativo do câmbio que facilitou a entrada da concorrência externa. Com um conjunto de resultados negativos, a indústria de transformação fechou o trimestre com uma queda de 1,2% no PIB ante igual trimestre de 2004. A indústria em geral mostrou um crescimento de 1,4% por causa da forte contribuição da extrativa mineral (12,1%) - com impacto da produção de petróleo (13,6%) e do minério de ferro (10,8%) - e da energia elétrica (3,2%).

Mas Paulo Mol espera que 2006 seja melhor para esses setores que registraram queda. "O nosso cenário é de recuperação gradual e moderada", afirmou.