Título: UE corta 13% da produção de açúcar
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Para evitar a queda do preço do açúcar, a União Européia (UE) anuncia um corte de 13,6% em sua produção a partir de julho. Os europeus, graças a seus subsídios milionários, são o segundo maior exportador do produto no mundo, superados apenas pelo Brasil. Mas, diante de sua produção subsidiada, acabam deprimindo os preços internacionais do açúcar e afetando a renda dos exportadores brasileiros. A decisão européia pode ser positiva para as exportações de açúcar do País.

O corte representa uma redução na produção de 2,5 milhões de toneladas, de um total de 17,4 milhões de toneladas produzidos em todo o bloco europeu. A redução, porém, tem como objetivo equilibrar o mercado da UE diante da reforma no sistema de subsídios que também será posto em prática a partir de julho.

Há poucos meses, os europeus estabeleceram um plano para cortar em 36% o preço mínimo pago ao produtor pelo açúcar nos próximos quatro anos. Para julho, o corte inicial seria de 20%. A decisão de reduzir a produção, portanto, evitará que os cortes nos preços sejam ainda mais drásticos para os agricultores.

Segundo a Comissão Européia, o objetivo do corte de produção é evitar que, com a queda de preços já planejada, a produção acabe jogando o preço ainda mais para baixo. De acordo com Bruxelas, quem fez o pedido para que a produção fosse reduzida foram os próprios governos europeus, preocupados com a renda de seus fazendeiros.

A reforma do sistema de subsídios foi iniciada depois que o Brasil conseguiu que a Organização Mundial do Comércio (OMC) condenasse a política de apoio da Europa ao setor. O Itamaraty alegou que os subsídios afetavam a competitividade do País, já que o açúcar nacional acaba sendo obrigado a concorrer com um produto apoiado financeiramente por outros governos. A OMC acatou os argumentos brasileiros e exigiu que os subsídios fossem reduzidos.

A entidade máxima do comércio deu até o dia 22 de maio para que a UE promova as mudanças necessárias, mas a reforma da política européia só entrará em vigor meses mais tarde. Pela lei, o Brasil poderia aplicar uma retaliação, mas o governo estuda qual será a tática usada para conseguir que Bruxelas de fato modifique seus subsídios, que existem há 40 anos.

A UE admite que o primeiro ano da reforma pode ser difícil. Os maiores cortes nos subsídios ocorrerão no açúcar para exportação, o que pode provocar uma demanda excessiva no mercado doméstico europeu. Para o Brasil, essa redução no volume de açúcar exportado pode abrir novos mercados e garantir um preço melhor para o produto nacional.