Título: 'Com ou sem verticalização, eu vou ganhar'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou contrariado com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que obrigou os partidos a reproduzirem nos Estados a aliança firmada no plano federal para as eleições deste ano. Numa conversa em seu gabinete, porém, ele tentou acalmar os mais aflitos.

"Com ou sem verticalização, eu vou ganhar", disse. Lula acredita que a decisão de ontem será derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Admitiu, porém, que o TSE "embolou" o jogo da sucessão com uma "camisa-de-força", deixando os partidos perdidos.

Se for mesmo mantida a regra que proíbe nos Estados as parcerias de siglas rivais na coligação nacional, Lula terá de enquadrar o PT para que abra mão de muitas candidaturas em benefício do PMDB.

Será sua única chance de atrair o partido para compor a chapa da reeleição, indicando o candidato a vice-presidente. Não foi sem motivo que 78 dos 80 deputados do PMDB votaram pelo fim da verticalização na Câmara.

A idéia da ala governista do partido era apoiar Lula nos Estados, mesmo que vingasse a candidatura própria do PMDB para a Presidência, depois da prévia marcada para dia 19 entre o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, e o ex-governador do Rio Anthony Garotinho.

A verticalização, porém, joga areia nesse plano. Em Minas Gerais, por exemplo, o PT já vinha articulando um palanque conjunto com o PMDB.

Os dois partidos estavam negociando o lançamento da candidatura do ministro das Comunicações, Hélio Costa, à sucessão do governador Aécio Neves (PSDB).

Se a decisão do TSE não cair, tudo vai por água abaixo. "É óbvio que a manutenção dessa regra restringe o leque de alianças para o presidente Lula, se ele for candidato à reeleição", afirmou o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), tomando o cuidado de fazer a ressalva oficial sobre o plano de reeleição.

CUSTO Se for mantida a verticalização para estas eleições, o Palácio do Planalto terá de fazer o possível e o impossível para o PMDB desistir da candidatura própria. Além disso, o custo será alto dentro do próprio PT.

Será preciso que o partido abra mão de cabeças-de-chapa em eleições regionais em favor de candidatos do PMDB. Os peemedebistas apostam que terão candidaturas majoritárias fortes em pelo menos 15 Estados, o que obrigaria o PT a fazer grandes concessões regionais.

O presidente Lula tem conversado com integrantes da chamada ala governista do PMDB, liderada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e pelo senador José Sarney (AP), em busca de alternativas.

Mesmo sem conseguir impedir a realização da prévia peemedebista, Lula ainda sonha com a possibilidade de um acordo com o partido de Renan e Sarney. Por enquanto, essa hipótese ficou mais distante.