Título: Tucano entra no rol das cassações
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Nacional, p. A6

O PSDB bem que tentou ficar de fora da lista dos condenados pela crise, mas não conseguiu. Na próxima relação de nomes de parlamentares apontados como infratores do decoro, seja por uso de caixa 2 em campanhas, seja por favorecimento financeiro com dinheiro de origem obscura, constará o do senador Eduardo Azeredo, ex-presidente do partido e ex-governador de Minas Gerais.

A lista será divulgada dentro de mais ou menos uma semana, período durante o qual a CPI dos Correios fará os últimos cruzamentos de dados para então anunciar quem são os cerca de dez parlamentares envolvidos com o esquema de Marcos Valério de Souza. Azeredo provavelmente é o único senador citado; os outros são deputados cujos nomes são mantidos ainda em relativo sigilo, até a confirmação final de que receberam mesmo dinheiro de origem ilícita e/ou por meios indevidos.

Um deles é José Borba, ex-líder do PMDB na Câmara, que renunciou ao mandato meses atrás. Sobre Azeredo a CPI investiga a hipótese - considerada altamente provável - de constarem movimentações posteriores a 1998. Até então, a comissão dispunha de dados apenas relativos àquela campanha, quando Eduardo Azeredo concorreu, e perdeu, à reeleição para governador.

De acordo com o comando da CPI, o PSDB já está devidamente conformado com o fato de que é absolutamente impossível acusar outros parlamentares pelo uso de caixa 2 e deixar o senador mineiro de fora.

É possível que ainda ocorram manifestações de solidariedade tucana a ele, mas serão atitudes meramente formais. Internamente no partido já se avalia como equívoco grave a atitude anterior de defender o indefensável. O PSDB formou um cordão de proteção em torno de Azeredo imaginando, assim, se preservar numa posição diferenciada do PT, mas acabou produzindo o efeito contrário, igualando-se na tentativa de encobrir ações que condenava no adversário.

Resultado: jogou fora tempo, energia, autoridade moral e o impulso da condição de acusador. Em resumo, perdeu o pé da situação. Agora entra na lista dos acusados quase que empurrado, concordando não por convicção, mas por impossibilidade de discordar das evidências.

A inclusão do nome de Azeredo não terá o condão de recuperar a perda - assim como a rendição do PT à instalação das CPIs não passou borracha nas várias e persistentes tentativas de evitar as investigações. No máximo reduzirá um pouco do preço de um enorme erro de cálculo político.

Caminhos

A elaboração da nova lista de nomes da CPI dos Correios - resultante da absorção dos trabalhos da comissão do mensalão, prematura e vexaminosamente extintos - tem ocorrido sob ambiente de intensas negociações e análises de conveniências.

Quando da divulgação, provavelmente no início da semana seguinte à próxima, ainda não está decidido se haverá recomendação para cassações de mandatos. É certo, porém, que os parlamentares serão citados como infratores da regra do decoro, cuja punição máxima é a cassação.

O senador Eduardo Azeredo é alvo de atenções especiais. Já houve consultas sobre a conveniência de encaminhar seu caso à corregedoria ou ao Conselho de Ética do Senado. Numa análise preliminar, as informações são as de que na corregedoria o clima é favorável a ele. Em português claro, a CPI ouviu que daquele colegiado ele poderia sair ileso.

Tudo o que a comissão não quer agora é transparecer à opinião pública que seus movimentos são pautados por acordos de bastidores ou que consistem em produções artificiais de vítimas com o intuito de fazer um relatório equânime do ponto de vista partidário só para facilitar a aprovação, mas não necessariamente levar a bom termo as investigações.

Soma zero

Assim à primeira vista, a decisão da Justiça Eleitoral de manter a regra da uniformização de alianças nacionais e regionais não altera o quadro das candidaturas presidenciais. Provocará espuma e reclamações dos partidos, mas, na prática, não provocará mudanças significativas.

Quimera

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tem todo o direito de fazer performances bem ao gosto daquela demagogia caritativa que os desenvolvidos acreditam ser o tratamento almejado pela porção "sub" do planeta.

Agora, como portador de neurônios bem nutridos, o chanceler também tem o dever de saber perfeitamente que a proposta de criar uma taxa de embarque internacional para a formação de um fundo com o objetivo de juntar U$ 12 milhões para acabar com a pobreza no mundo não tem a menor chance de progredir.

Não passa no Congresso. E não por questão de má vontade política de senadores e deputados, mas porque não passa na sociedade, cujo grau de discernimento é inversamente proporcional à percepção do governo sobre o índice de desenvolvimento mental de seus compatriotas, nomeadamente o público alvo com acesso a viagens internacionais.