Título: Do 'espetáculo de crescimento' em 2003 ao conformismo, 3 anos depois
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Nacional, p. A6

Do espetáculo de crescimento prometido no início do governo à afirmação de que não tem pressa em fazer a economia decolar, concedida à revista britânica The Economist, as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as perspectivas de desempenho econômico variaram, ao longos dos anos, de um otimismo exagerado ao realismo e, agora, a um certo conformismo.

Lula estreou no governo em 2003 dizendo que o País iria ver um "espetáculo de crescimento". Chegou a declarar que o espetáculo começaria em julho. Mas o PIB, naquele ano, mereceu vaias: encolheu 0,2%. Em 2004, o presidente iniciou o ano otimista, declarando que o País entraria numa rota de crescimento irreversível. Foi um ano bom, de fato, com um crescimento de 4,9%. Mas a reversão veio em 2005. No meio do ano, o presidente já admitia que o crescimento não seria "nenhuma Brastemp"; mas, de qualquer forma, haveria "um bom resultado". No entanto, os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada mostram que o ano de 2005 não foi nada bom: o País cresceu apenas 2,3%.

REPERCUSSÃO

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, a falta de pressa em relação ao crescimento, como declarou o presidente Lula, pode fazer com que o País chegue atrasado. "Não ter pressa de crescer pode significar também não ter pressa de gerar empregos, renda e promover o resgate da dívida social que temos. Devagar se vai ao longe, é certo. Mas há o risco de se chegar atrasado.", disse Skaf.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, considerou a frase do presidente "lamentável, um desastre". "O presidente pode não ter pressa, mas o povo tem", disse Paulinho. "Lula ganhou a eleição prometendo o espetáculo. Quem tem fome não tem como esperar."