Título: 'Lula é o anti-Juscelino', diz Alckmin
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Nacional, p. A7

Pré-candidato do PSDB à Presidência, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, reafirmou ontem que mantém sua disposição em representar o partido mesmo que José Serra decida renunciar ao cargo de prefeito para concorrer com Lula. No melhor estilo de candidato, Alckmin evitou tratar do impasse do PSDB e centrou foco nas críticas ao governo do PT. Dizendo-se extremamente preocupado com as declarações que Lula deu à revista The Economist - na qual ressalta que o Brasil não tem pressa de fazer a economia decolar -, Alckmin recorreu a um dos ídolos de Lula para criticar o presidente "É o anti-Juscelino (Kubitschek). Tudo o que o Brasil precisa é pressa para tirar o atraso, diminuir a pobreza e a exclusão social."

Alckmin escolheu Juscelino não por acaso. Freqüentemente em seus discursos, Lula recorre à figura do ex-presidente para se defender de acusações que considera injustas e associa JK à imagem do injustiçado.

O governador foi além. Disse que falta ao governo Lula "sentimento de urgência das coisas". E afirmou: "Tudo pode deixar para amanhã e empurrar com a barriga. Isso não existe no mundo moderno, no mundo competitivo." Alckmin insistiu que, assim como na administração das empresas privadas, no comando do País também é necessário que se tomem decisões rápidas e eficientes. "Se não faz reformas, se não há eficiência, fica para trás", frisou. "É o que está acontecendo com o Brasil, o penúltimo no crescimento na América Latina", lamentou.

Em mais um dia de agenda intensa - pela manhã deu início às obras do Programa de Revitalização dos Pólos e Articulação Metropolitana (Pró-polos) em Caieiras (na região metropolitana) e à tarde anunciou adicional de salário para policiais civis e militares - , Alckmin reiterou que "a luz amarela" está acesa. "O governo precisa aprender com essa luz amarela porque não é possível o Brasil continuar o último da fila."

DEFINIÇÃO

Quando o assunto foi a novela do PSDB para a escolha entre ele e o prefeito José Serra, Alckmin procurou demonstrar tranqüilidade. Sobre o retiro de Serra - que desde o carnaval está fora de São Paulo e deveria retornar ontem à noite à capital paulista -, o governador foi diplomático. Recorreu ao filósofo espanhol José Ortega e Gasset para tentar explicar a demora de Serra em colocar ou não sua candidatura à mesa. "Eu sou eu e a minha circunstância. Eu não vou fazer nenhum reparo. São as circunstâncias e vamos aguardar."

Ao ser questionado pelos jornalistas se o processo de escolha do PSDB não estava demorando para chuchu - uma referência ao apelido picolé de chuchu do governador -, Alckmin riu. Muito. E assegurou: "Mas vamos chegar lá."

Mais tarde, já no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, reforçou que se o PSDB adotar uma "boa solução" o impasse gerado em torno da escolha não trará prejuízos ao partido. E qual seria a solução? O senhor?, indagaram os jornalistas. Bem-humorado, disse: "Essa sim seria uma boa solução."

Mostrando que não jogará a toalha facilmente, avisou que a decisão entre ele e Serra não será tomada pela cúpula do partido. "A decisão será coletiva, não de 3 ou 4. Isso é óbvio", disse, sem citar o triunvirato tucano: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de Minas, Aécio Neves, e o presidente nacional do PSDB, o senador Tasso Jereissati. "Isso (que a decisão caberia aos caciques do partido) foi mal-interpretado." Em seguida, insistiu que a escolha está por vir. "Voltem amanhã", finalizou.