Título: Empresa teria pago US$ 5 mi por obras
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2006, Nacional, p. A10

Em depoimento à Polícia Federal, o ex-funcionário da Toshiba José Antonio Csapo Talavera sustentou que teriam sido cobrados da empresa US$ 5 milhões de propina para que ela pudesse construir duas usinas termelétricas - em Campos dos Goytacazes e São Gonçalo, ambas no Estado do Rio - para Furnas.

O depoimento de Talavera foi entregue ontem pelo deputado distrital Augusto Carvalho (PPS) à CPI dos Correios. Nele, o ex-empregado da Toshiba confirmou a existência de um suposto esquema de pagamento de caixa 2 para políticos e diretores das companhias elétricas Furnas e Cemig.

Talavera, que trabalhou na Toshiba entre fevereiro de 1997 a dezembro de 2004, não citou os nomes das pessoas que teriam recebido propina. "Se essa denúncia for procedente, é um caso gravíssimo", afirmou o sub-relator de contratos da CPI, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). Ele recebeu ontem à tarde cópia de dois depoimentos de Talavera, um à Polícia Federal e outro à Divisão de Repressão a Crimes Fazendários. À Polícia Federal, o ex-funcionário da Toshiba disse que "não tinha conhecimento de como seria operacionalizada a transferência de propina para diretores de Furnas e para políticos".

Ele observou ainda que não sabia "se algum político ou diretor de Furnas efetivamente recebeu propinas". Pelas informações que ele apresentou, o diretor da Toshiba em Minas Gerais, Leonídio Soares, relacionava-se com Dimas Toledo, ex-diretor de Engenharia de Furnas e apontado como autor de uma lista com o nome de 156 políticos que teriam recebido cerca de R$ 40 milhões de dinheiro de caixa 2 na campanha eleitoral de 2002.

Talavera disse ainda que ficou sabendo do relacionamento entre Dimas e Leonídio "em razão de informações privilegiadas e dados que somente alguém muito próximo ao então diretor de Engenharia de Furnas poderia ter obtido". No depoimento, ele referiu-se ainda à existência de "um grupo composto de grandes empresas que dominam as licitações e o fornecimento de bens e serviços para o setor elétrico".

Esse grupo, de acordo com seu depoimento, é chamado "pelos iniciados de 'clube' e composto principalmente pelas empresas Toshiba, Weg, Alston do Brasil, ABB, GE e Gevisa". Esse grupo, prosseguiu, reúne-se em São Paulo "quando são definidos os vencedores de licitações e contratos com o poder público, bem como os valores que serão pagos a título de propina".

Em outro trecho do depoimento à PF, o ex-funcionário da Toshiba afirma que nas reuniões de diretoria da empresa eram discutidos os contratos das usinas e que "os valores que seriam pagos por Furnas já teriam embutidos percentuais destinados ao pagamento de propinas para a diretoria da estatal e alguns políticos".

Segundo Talavera, "tais recursos seriam repassados para a estatal e para os políticos através de falsos contratos de consultoria". Por fim, ele afirmou que "era de pleno conhecimento tanto dos diretores da Toshiba do Brasil quanto dos diretores da matriz japonesa a cobrança de propinas".