Título: Frete mais caro deve reduzir ganho de produtores de soja
Autor: Fabíola Gomes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2006, Economia & Negócios, p. B14

Aumento dos gastos com combustível faz transportadoras elevarem os preços

O custo de escoamento da soja das regiões produtoras para os portos está mais caro este ano. Transportadoras e economistas da área agrícola projetam que o frete deverá ter aumento real em relação aos valores praticados em 2005. Esta alta deve reduzir ainda mais a remuneração dos produtores brasileiros de soja, que neste ano já estão recebendo menos em moeda nacional, por causa do câmbio valorizado.

Pelos cálculos de Anderson Galvão, diretor da consultoria Céleres, neste ano um produtor da região de Lucas de Rio Verde, norte de Mato Grosso, receberá pela soja 46% do preço praticado nos portos brasileiros, enquanto no ano passado essa porcentagem estava em 55%. "Frete e câmbio são os dois fatores que devem enfraquecer a base de preço recebido pelo produtor brasileiro", diz Galvão.

Os frotistas estão atentos ao desenvolvimento da safra de soja no País. Há quinze dias, segundo Moacir Francisco Dall Orsoleta, gerente da transportadora Agotran, de Mato Grosso, havia caminhões sobrando nas regiões produtoras. Hoje, o cenário é outro, pois a colheita segue firme com o clima favorável. Há registro de apenas algumas pancadas de chuva no final do dia. "Atualmente, há grande oferta de mercadoria e poucos veículos para transportar o produto", diz Orsoleta.

Ele destaca que um dos fatores que puxam o preço do frete é o custo para manutenção de um caminhão rodando nas estradas brasileiras. "Atualmente, manter um caminhão na estrada custa em média R$ 2 por quilômetro rodado, enquanto o frete está em torno de R$ 3,10 a 3,20", afirma. Essa margem é muito baixa diante dos custos com diesel, com a manutenção do veículo, e ainda com a depreciação do próprio caminhão.

Segundo Orsoleta o valor do frete recuou 10% no ano passado, mesmo diante dos preços mais altos do diesel. "Mas este ano o frete deve subir." Ele lembra que, no ano passado, o litro do diesel estava em torno de R$ 1,75 à vista e de R$ 1,80 a prazo. Hoje, o combustível na região está cotado a R$ 1,99 à vista e a R$ 2,08 a prazo. Além do combustível, outros fatores que influenciam nos preços do frete são os custos diretos, decorrentes da parte mecânica e manutenção dos veículos; e indiretos, como a redução da velocidade em rotas mais longas nas estradas em más condições.

PREÇOS

No auge da safra no ano passado, o frete nas principais rotas rodoviárias de Mato Grosso com destino aos portos de Paranaguá e Santos ficaram em R$ 130 e R$ 140, respectivamente. Os valores ficaram abaixo dos altos preços registrados em 2004, ano atípico com safra recorde e preços elevados do cereal, que ficaram entre R$ 155 e R$ 160 por tonelada.

Oromildes Masson, diretor comercial da Transportadora Brasil Central, situada no sudeste de Goiás, lembra que são comuns as notícias de que o preço do frete está muito alto. "Mas não é o frete que está mais alto, foi o preço da soja que baixou no mercado", afirma. Segundo ele, os preços do frete começaram a se recuperar na região. "Depois que as chuvas pararam, o produtor retomou a colheita." A estimativa de Masson é de uma alta de 10% no frete no pico da safra brasileira. Na rota Jataí com destino ao Porto de Santos, o frete está em R$ 100/tonelada. O problema, diz ele, é que ainda não há frete de retorno neste período, pois o transporte de fertilizantes costuma ocorrer entre maio e junho.

Mas a queda na remuneração dos agricultores pode limitar a alta do valor do frete. Esta é a opinião do economista José Vicente Caixeta, do Sistema de Informações de Fretes (Sifreca), ligado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Na opinião do pesquisador, apesar do aumento típico do período de entrada da safra, os gastos com o frete não serão tão elevados quanto em 2005. "Nas rotas mais longas, o frete pode chegar a custar mais de 50% da soja", diz o professor. Para ele, da mesma forma que a previsão para os preços na safra 2005/06 não é tão otimista, o valor do frete não deve subir muito.

Caixeta considera que a boa gestão de armazéns e o uso de ferrovia são os instrumentos que podem baixar os gastos com transporte. A perspectiva de uso das ferrovias, especialmente no caso da soja e do açúcar, faz com que o aumento do frete rodoviário não seja tão expressivo, segundo o professor. "Em um cenário competitivo, é razoável que se gaste de 10% a 15% com o transporte", diz Caixeta. Porém, há casos em que se chega a 50% do custo total da produção do cereal.