Título: Produção anual de petróleo pode ser recorde
Autor: Alaor Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Petrobrás deverá extrair este ano 230 mil barris diários a mais que em 2005

A Petrobrás deve ter este ano o maior aumento de produção de petróleo no mercado interno em um único exercício, com impacto direto no seu faturamento, na balança comercial e até no Produto Interno Bruto (PIB). Pelas projeções da empresa, a produção de 2006 deve oscilar em torno de 1,91 milhão de barris diários, com acréscimo de cerca de 230 mil barris em relação à média de 2005. O aumento no ano passado já havia sido o maior em um só exercício, com produção média diária de 1,684 milhão e acréscimo de 191 mil barris diários ante 2004. Em dois anos, a petroleira estima incremento na produção de cerca de 420 mil barris diários, após permanecer dois anos (2001 e 2002) praticamente no mesmo patamar, em torno de 1,5 milhão de barris diários.

Em termos financeiros, a produção projetada da Petrobrás este ano significa movimento em torno de US$ 35 bilhões, considerando-se preço médio ao redor de US$ 50 por barril. Com este acréscimo da produção, o empresa terá um faturamento extra em torno de US$ 4 bilhões. Se o preço do barril subir para a faixa de US$ 60, o faturamento da companhia poderá atingir US$ 42 bilhões - sendo R$ 5 bilhões decorrentes da alta da produção anual. Só o aumento da produção/faturamento da Petrobrás é semelhante ao faturamento anual de algumas grandes empresas brasileiras, como a siderúrgica Arcelor ou o grupo varejista Pão de Açúcar, cujas vendas estão em cerca de US$ 4,5 bilhões/ano.

O forte aumento da produção tem ampliado os efeitos na balança comercial devido à virtual estagnação no consumo interno. Em 1999, o consumo no Brasil era equivalente a 1,608 milhão de barris diários de petróleo, e cresceu apenas 100 mil barris no intervalo de seis anos, o que significa variação de 6%. No mesmo período, a produção interna aumentou cerca de 70%, com acréscimo de quase 800 mil barris por dia. Em 1999, conforme dados da Petrobrás, a produção interna ficou em torno de 1,1 milhão de barris, com consumo de 1,6 milhão de barris/dia e déficit de 480 mil barris/dia naquele ano. A expectativa da estatal é ter um superávit de 160 mil barris/dia este ano, numa reviravolta expressiva na balança comercial em seis anos.

Além de elevar o faturamento, a companhia muda a sua situação em termos de exportação/importação, passando a figurar entre as exportadoras líquidas (e torcer para a alta do dólar ante o real). A expectativa da Petrobrás é de um superávit comercial de US$ 3 bilhões, invertendo o quadro histórico de déficits seguidos no setor nas últimas décadas. Em 2004, o déficit comercial do segmento de petróleo e derivados atingiu US$ 5,5 bilhões, e US$ 4,6 bilhões em 2005. O setor já é o de maior peso no PIB brasileiro e a alta da produção contribuirá de forma positiva para esse indicador este ano.

Sem o aumento da produção interna, e aos preços atuais do petróleo, após a forte alta dos preços do óleo no mercado internacional nos últimos anos, o panorama para a estatal e para a balança comercial seria bem menos favorável. Se o desequilíbrio entre a produção interna e consumo estivesse no mesmo patamar de 1999, com déficit diário de 480 mil barris, o País teria um desembolso líquido (exportações menos importações) em torno de US$ 9 bilhões este ano, com o barril negociado a US$ 50. Se o preço ficar em US$ 60 o barril, o prejuízo no segmento petróleo subiria para US$ 10,5 bilhões.