Título: Dados ajustados mostram desaceleração
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Importações estão crescendo mais que exportações e saldo vai encolher, dizem analistas

Apesar dos recordes registrados pelas exportações, muitos analistas afirmam que já está em curso uma virada na balança comercial. Segundo Julio Callegari, economista do Banco JP Morgan, entre 2002 e meados de 2005 as exportações cresceram mais que as importações. Já em 2006, as importações passaram a crescer a uma velocidade bem maior do que as exportações - o que deve levar a uma redução do saldo comercial de 2006.

No primeiro bimestre do ano, em comparação com o último bimestre de 2005 em dados dessazonalizados (eliminadas as distorções sazonais), as exportações cresceram apenas 0,3%, enquanto as importações avançaram 6,5%.

Em fevereiro as exportações ficaram estáveis em relação a janeiro, enquanto as importações avançaram 5%, nos dados dessazonalizados. "Já temos uma virada em curso, o saldo comercial não vai continuar aumentando", diz Callegari.

Para ele, de agora em diante, as exportações vão se manter em um bom patamar, mas vão crescer pouco ou nada, enquanto as importações vão se recuperar seguindo a atividade econômica. "Não haverá mais expansão do saldo", diz.

O JP Morgan prevê um saldo comercial de US$ 41 bilhões este ano, ante os US$ 44,8 bilhões de 2005.

Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), chegou a estimar uma redução no saldo comercial acumulado nos últimos 12 meses. Mas o saldo foi recorde, chegando a US$ 45,463 bilhões.

Mesmo assim, Giannetti espera sinais claros de desaceleração nas exportações e no superávit comercial a partir de maio. "O saldo deste ano vai ser menor que o do ano passado; portanto, por uma questão óbvia, o saldo vai começar a encolher daqui a pouco."

Para o economista Fernando Ribeiro, responsável pelos boletins da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), a taxa de câmbio está exercendo uma influência negativa sobre as exportações do País.

Ele observa que "nos 12 meses até janeiro o aumento das exportações foi de 9,1% em relação aos 12 meses anteriores, enquanto em meados de 2005 esse crescimento estava em 15% e, em 2004, em quase 20%".

Além disso, as exportações cresceram 22,6% em valor no ano passado em relação a 2004, enquanto no mês passado o aumento das exportações foi de 12,8% em comparação com fevereiro de 2005, o que evidencia uma redução do ritmo de crescimento.