Título: Real forte pode comprometer diversificação da exportação
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

A forte valorização do real pode "restringir, abortar ou reverter" o processo de diversificação das exportações brasileiras, segundo um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) sobre o impacto do câmbio na indústria.

Neste início de mês, o câmbio está cotado em R$ 2,11, ante R$ 2,64 no início de março de 2005. Por isso, os empresários temem que setores que passaram a exportar percam competitividade.

O diretor-executivo do Iedi, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ainda não detectou nenhum movimento significativo de recuo nas exportações neste início de ano, seja de grandes ou pequenos setores. "Isso não ocorre da noite para o dia", afirmou.

No caso de grandes empresas, como as do setor automobilístico ou de bens de capital, essa decisão só ocorre no longo prazo. "Não é um ano de câmbio valorizado que provoca isso", explicou o diretor do Iedi.

No longo prazo, entretanto, o Iedi pondera que setores industriais sem tradição exportadora poderão se voltar para o mercado doméstico, o que será prejudicial ao desempenho das contas externas brasileiras.

No ano passado, o saldo comercial do País cresceu 33% em relação a 2004, com um superávit de US$ 44,8 bilhões, resultante de US$ 118,3 bilhões em exportações e US$ 73,5 bilhões em importações.

O Iedi pondera que em 2005 houve grande diversificação da pauta exportadora brasileira, com destaque para o bens de maior valor agregado. Ou seja, não houve apenas um salto quantitativo, com o aumento das exportações, mas também mudanças importantes na composição de setores exportadores.

No estudo, o Iedi demonstra essa incorporação de novos setores, lembrando que a indústria intensiva em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) teve um aumento de sua contribuição ao crescimento das exportações de 10% em 2005, em comparação com o ano anterior.

Adicionalmente, setores de baixa e média intensidade tecnológica perderam terreno nas exportações, recuando de 78% para 70% de 2004 para o ano passado.