Título: Saldo é recorde, mas já preocupa
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Em fevereiro, superávit comercial foi de US$ 2,8 bilhões, o maior para o mês, e no ano, somou US$ 5,6 bilhões

A balança comercial de fevereiro registrou superávit recorde para o mês, de US$ 2,822 bilhões e desempenho exportador igualmente inédito. Os embarques de produtos brasileiros ao exterior alcançaram US$ 8,750 bilhões no mês e somaram US$ 18,021 bilhões no primeiro bimestre do ano.

Mas os números divulgados ontem confirmaram as expectativas do governo de expansão mais acelerada das importações do que das exportações e não aliviaram as preocupações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) com o impacto da valorização do real em relação ao dólar nos resultados da balança comercial.

"O dólar a R$ 2,11 talvez não seja ainda um nível suficiente para determinar a queda das exportações", afirmou o secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat. "Há preocupação grande neste ministério com a taxa de câmbio. O total das exportações não caiu porque houve maior diversificação dos produtos embarcados e dos mercados de destino e também porque vários setores diminuíram custos para se manter competitivos."

Os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostraram que, em fevereiro, a média diária de exportações (US$ 486,1 milhões) cresceu 12,8% e a de importações (US$ 329,3 milhões) subiu 19%, em relação a fevereiro de 2005. No total, as importações alcançaram US$ 5,928 bilhões no mês, cifra também recorde. No bimestre, as vendas externas aumentaram 18,6%, em comparação com igual período do ano passado, enquanto as importações cresceram 20,7% e somaram US$ 12,355 bilhões.

O saldo acumulado no bimestre, de US$ 5,666 bilhões, manteve-se "em linha com a previsão do MDIC de alcançar US$ 132 bilhões em exportações neste ano", segundo Meziat. Mas o indicador da viabilidade dessa meta, o resultado do comércio exterior no período de 12 meses encerrado em fevereiro, mostrou que as exportações ainda estão em US$ 121,129 bilhões. Nesse critério, os embarques ainda aparecem com maior fôlego de expansão do que as importações - 20,9% contra 16,2%.

Os dados do comércio exterior registrados até a terceira semana de fevereiro alimentaram análises alarmistas dos setores empresariais sobre a tendência de valorização do real ante o dólar e seus efeitos sobre a balança comercial. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, chegou a pedir "paciência" aos exportadores e a prometer um conjunto de medidas para a acomodação da taxa de câmbio. "Teremos um período de sofrimento, mas, como dizia José do Egito, após sete anos de vacas magras, vêm sete anos de vacas gordas", disse no último dia 20.

Na ocasião, a preocupação eram os números. Nas três primeiras semanas de fevereiro, a média diária de exportações mantinha-se em apenas US$ 448,5 milhões. A quarta semana mudou o panorama, com o registro de uma média diária "espetacular" em embarques, de US$ 584 milhões, motivada pela venda de aviões da Embraer e de outras manufaturas. Novamente, a análise das cifras indicou certa pressa do mercado e do governo.

"Analisar o comércio exterior por semana é um perfeccionismo alucinado", afirmou Meziat. "Em um período curto, a venda de um produto com altíssimo valor gera uma oscilação considerável." Em fevereiro, apesar da taxa de câmbio valorizada, a Secex constatou expansão recorde nas três categorias de produtos exportados pelo País. Puxadas pelas vendas de minério de ferro (38,4%), de petróleo (21,1%), de soja em grãos (89%) e outros itens, as exportações do conjunto dos produtos básicos aumentaram 12,3%, em relação a igual mês de 2005.

As importações também cresceram nas quatro categorias, em relação a fevereiro de 2005. Mas a atenção concentrou-se no aumento de 26% nas compras de bens de consumo, que estavam fracas nos últimos anos. As importações de máquinas e equipamentos cresceram no mesmo ritmo, 26,6%, as de matérias-primas e produtos intermediários aumentaram 15,7%, e as de combustíveis, 16,1%. Segundo Meziat, o desempenho dos bens de consumo foi determinado pelo câmbio mais favorável.

Meziat descartou que haja uma tendência no setor empresarial de preferir a importação de bens finais em vez da produção para os mercados interno e externo. Disse que dentro de 30 dias o MDIC deverá concluir um estudo sobre as razões da queda no número total de empresas exportadoras brasileiras em 2005.