Título: Alckmin faz campanha e diz não ter plano B; Serra desaparece
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2006, Nacional, p. A7

Na briga pela indicação do PSDB, governador cumpre agenda pública e prefeito ganha tempo

Os dois nomes do PSDB para disputar a sucessão de Lula, José Serra e Geraldo Alckmin, adotaram estratégias opostas ontem. Enquanto o prefeito resolveu submergir para ganhar tempo e definir se renuncia ao cargo para concorrer à Presidência, o governador fez questão de cumprir agenda pública com direito a claque em inauguração.

Serra era aguardado ontem em São Paulo, após retiro na Argentina durante o carnaval. A ausência do prefeito, porém, frustrou seus correligionários, envolvidos por um clima de suspense. O retorno de Serra era visto como um dos últimos capítulos da novela do PSDB para a escolha do adversário de Lula. Nenhum de seus assessores ou interlocutores políticos revelaram - ou não quiseram revelar - os passos do prefeito, nem mesmo confirmaram se ele já havia retornado à cidade.

Na outra ponta, Alckmin viveu mais um dia ostensivo de candidato. Logo pela manhã, participou da inauguração de uma Faculdade de Tecnologia (Fatec) e de uma Escola Técnica (ETE) no Jardim São Luiz, na zona sul de São Paulo.

Ao falar com os jornalistas, o governador descartou ter um plano B caso seja preterido pelo prefeito José Serra. Alckmin disse que "não tem motivação" para brigar por uma vaga no Senado, apesar de a pesquisa Ibope ter apontado que ele venceria Eduardo Suplicy (PT), que buscará a reeleição.

"Isso (o Senado) nunca me motivou", assegurou ele, insistindo que não há recuo de sua disposição em ser candidato à Presidência. "Não mudou nada, nada, nada. Meu nome foi colocado à disposição do partido. Essa é uma decisão coletiva. Não tem fato novo."

Alckmin também minimizou a performance do presidente Lula nas pesquisas. O petista lidera a disputa quando enfrenta Alckmin ou Serra. "Retrata o que vimos nas pesquisas anteriores. Hoje você tem um monólogo, só o presidente fala, e um dilúvio de propaganda federal. Não muda nada. Não tem grandes mudanças." Diante da insistência dos jornalistas sobre sua performance em caso de disputa pelo Senado, repetiu que está à disposição do PSDB para concorrer ao Planalto.

Bem-humorado, comparou o momento que vive com seus tempos de infância, em Pindamonhangaba (Vale do Paraíba). "Isso me faz lembrar quando eu ia à matinê, no domingo, no Cine Brasil. Quando o carro derrapava na curva e o mocinho do filme ia cair no precipício, fechava a tela e dizia: 'volte domingo que vem'", contou. Então, prosseguiu o governador aos jornalistas, "voltem amanhã". "Hoje não tem nenhuma novidade."

Alckmin insistiu que não há necessidade para "estresse" e que a decisão deve sair até o dia 10.

No melhor estilo candidato, o governador tirou o pé direito do sapato, dobrou a barra da calça e bateu um pênalti na quadra da escola que inaugurou. "Você pula para um lado, que eu chuto no outro", recomendou ao goleiro. Mesmo assim, Alckmin não fez o gol.