Título: CPI vai votar reconvocação de Okamotto
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2006, Nacional, p. A4

Para senador Romeu Tuma, telefonemas revelados pelo 'Estado' mostram ligação com acusados do mensalão

Para esclarecer os 161 telefonemas trocados com os principais envolvidos no escândalo do mensalão, o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, será reconvocado para depor na CPI dos Bingos. O presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse que o requerimento para que o ex-caixa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareça novamente à CPI será votado já na próxima semana.

Okamotto foi ouvido no fim de novembro, mas a justificativa para ter quitado uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT não convenceu os senadores. Para Efraim, a ligação com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, com o publicitário Duda Mendonça e com outros investigados - como revelou ontem o Estado - comprova que a CPI está no caminho certo ao suspeitar da origem do dinheiro utilizado no pagamento da dívida.

Segundo o presidente da CPI, a nova suspeita será levada em conta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), caso Okamotto tente novamente brecar as investigações. "É um fato novo. Não vou dizer que inviabilizará uma nova liminar, mas com certeza vai dificultar."

Efraim vai rever o pedido de abertura das contas do presidente do Sebrae para atender às exigências do ministro do STF Cezar Peluso - que preservou o sigilo do petista para evitar "uma devassa ampla, inútil, impertinente e inconcebível".

MENTIRA

O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MS) afirmou não acreditar que Okamotto tenha pago a dívida à revelia do presidente. "Ele disse que retirou o dinheiro do banco. Acho que ele mentiu, mas podemos restringir o fim do sigilo ao período em que isso aconteceu", frisou.

Antero destacou ainda que, comprovada a mentira, ficará caracterizado que Lula cometeu crime de responsabilidade, ao endossar uma versão falsa sobre a origem dos recursos.

No entender do senador Romeu Tuma (PFL-SP), a revelação sobre os 161 contatos telefônicos "mostra claramente a ligação entre Okamotto e os acusados do mensalão". Para ele, caberia agora ao próprio presidente do Sebrae pedir para se explicar à CPI. "Ele deveria se oferecer para depor", afirmou.

Tuma endossou a posição de Efraim de prorrogar a investigações, caso não receba a tempo os dados solicitados ao Banco Central, à Receita Federal e à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Se isso não for feito, prevê, a sociedade terá razões de sobra para reclamar. "Não se pode encerrar uma CPI de muletas."