Título: Álbuns de fotos virtuais disputam espaço na rede
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2006, Economia & Negócios, p. B10

Em seu discurso na última edição do Consumers Electronics Show, em Las Vegas, há um mês, o presidente mundial da Kodak, Antonio Perez, alertou para os novos desafios na era da imagem digital. Um deles era a transformação do computador pessoal, CDs e a própria internet em um colossal depósito onde todas as imagens são jogadas de forma completamente caótica. Segundo ele, é como se fosse uma versão gigantesca das caixas de sapato onde as fotos velhas são normalmente guardadas sem nenhum critério dentro dos armários domésticos. O problema é que, enquanto em casa a bagunça se restringe a algumas centenas de imagens, no ambiente digital esse volume alcança uma escala monstruosa.

Entre os negócios da fotografia digital está o desenvolvimento de sistemas capazes de catalogar, juntar e organizar imagens que ficam guardadas em álbuns digitais instalados em sites da internet. O Google já tem o seu, o Picasa. Mas esse é o território por excelência das chamadas startups, empresas de novos negócios, onde o que vale é a criatividade e inovação.

É o caso do sistema que gerou o Flickrs, um site criado há três anos numa pacata residência de Vancouver, no Canadá, pelo casal Stewart Butterfield e Catarina Fake. Por um sistema em que cada usuário produz uma espécie de etiqueta digital para identificação de suas fotos.Também pode fazer legendas para as fotos de outros usuários. O sistema do site é capaz de realizar buscas e agrupar fotos a partir de temas. A palavra refrigerator (geladeira), por exemplo, leva a uma curiosa viagem pelo interior de geladeiras e freezers espalhados pelos quatro cantos do planeta.

O sucesso do Flickrs é estrondoso, tanto que foi comprado pelo Yahoo! no fim do ano passado por um valor não revelado. O site abriga 37 milhões de fotos de 1,2 milhões de associados que pagam uma taxa de US$ 3,50 por mês para manter lá um estoque de 100 imagens. O valor sobe de acordo com a quantidade de imagens estocadas. O ritmo de crescimento do Flickrs tem sido alucinante - em média 5% por semana.

Outra pequena empresa, a Riya, fundada por um programador de origem indiana na Califórnia, acaba de receber uma injeção de US$ 15 milhões de fundos de capital de risco para lançar um sistema de identificação fotográfica inacreditável. Batizado inicialmente como Ojos (olhos, em espanhol), é um software adaptado dos programas de reconhecimento facial para identificar imagens.

A proposta é que o Ojos agrupe as fotos como se estivesse olhando para elas. A Riya tem 24 funcionários, nove deles baseados na Índia e quase todos com especialização universitária em reconhecimento de imagem. Seu fundador e presidente, Munjal Shah, decidiu abrir o negócio a partir de suas próprias necessidades.

"Eu estou fundando uma empresa desse tipo depois que eu percebi que eu tinha arquivadas 31.246 fotos todas com o nome de CDSC0009.jpg", escreveu Shah em seu blog. Shah é co-fundador de uma empresa de leilões virtuais, a Andale, e nos últimos tempos tem se dedicado integralmente ao novo negócio. Com toda razão, diga-se de passagem.