Título: O custo do gás boliviano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2006, Economia & Negócios, p. B2

Os consumidores paulistas estão pagando mais, desde o dia 1º, pelo gás natural boliviano consumido em residências, veículos, centros comerciais e indústrias. O novo preço varia conforme o tipo de consumidor e a distribuidora. Na área da Comgás, as tarifas residenciais aumentaram de 7% a 9% e as industriais, de 12,64% a 17,9%. Nos postos de GNV, o aumento foi da ordem de 6%.

Novos reajustes estão previstos, pois este foi apenas intermediário, autorizado pela Comissão de Serviços Públicos de Energia (CSPE) para ressarcir as distribuidoras da elevação dos preços aplicada pela Petrobrás desde setembro. Para a Comgás, é previsto um só reajuste anual, aplicado em 31 de maio.

A CSPE vinha adiando o aumento por acreditar que as distribuidoras tinham "gordura" para queimar, apesar do preço mais alto do gás boliviano. Em 2005, aprovada a Lei de Hidrocarbonetos, dobraram os tributos sobre a produção, de 35% para 70%. E a Petrobrás corrigiu os preços cobrados das distribuidoras em 13% em setembro, 10% em novembro e 14% em janeiro.

O aumento revela o custo da dependência em relação à Bolívia e alerta para a elevação geral dos preços dos combustíveis. O gás ainda é um insumo barato para proprietários de veículos, mas não se sabe por quanto tempo.

A demanda brasileira de gás tem crescido substancialmente. Até 2003 o gasoduto Brasil-Bolívia operava com grande ociosidade. Mas hoje transporta 26 milhões a 27 milhões de metros cúbicos por dia, já quase na capacidade máxima de 30 milhões de metros cúbicos por dia. O investimento de US$ 2 bilhões no gasoduto, administrado pela Transportadora Gasoduto Brasil-Bolívia (TBG), foi feito com financiamento dos sócios Braspetro (Petrobrás, com 51% das ações), BBPP (da BG inglesa), Transredes, Shell e Prisma. E teria retorno rápido, como indicou o balanço da TBG de 2003, não fosse o governo Evo Morales pretender extrair mais receita dos investidores estrangeiros, como a Petrobrás.

O consumidor brasileiro começa a pagar, portanto, o custo Evo Morales, pois o partido do presidente boliviano - Movimento ao Socialismo ( MAS) - liderou as pressões para a aprovação da Lei de Hidrocarbonetos.

Neste mês, será relativamente pequeno o impacto inflacionário do preço do gás no País, pois devem arrefecer as pressões visíveis em janeiro. Mas uma avaliação de prazo longo dependerá das pretensões bolivianas. Só se sabe que os consumidores brasileiros serão onerados.