Título: Nos EUA, uma cruzada contra a obesidade
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2006, Vida&, p. A22

Governador do Arkansas, ex-diabético, quer política pública para baixar custos de tratamento

Em 2003, Mike Huckabee, o governador do Estado americano do Arkansas, soube que sofria de diabete tipo 2. O médico lhe disse que ele estaria morto em dez anos - e o aterrorizou o bastante para motivá-lo a se exercitar, evitar açúcar e perder 50 quilos. Com 1,70 metro, ele pesa hoje 81 quilos. Suas primeiras tentativas de corrida o deixavam com vertigem. Agora, corre maratonas.

Essa já seria uma bela história se acabasse aqui. Mas Huckabee se tornou um estudioso de políticas de saúde e, com a ajuda de especialistas, lançou uma série de iniciativas inteligentes para combater a obesidade. O Arkansas se tornou um laboratório nacional do uso do poder público para encorajar estilos de vida saudáveis.

Os outros Estados e governos federais deveriam adotar as mesmas iniciativas - por exemplo, restringir o consumo de refrigerantes nas escolas, informar aos pais o índice de massa corporal dos filhos como uma maneira de incentivar a boa forma, estabelecer intervalos mínimos para exercícios, pagar por checagens de saúde preventivas, subsidiar esforços para abandonar o cigarro e dar aos vales-refeição mais poder de compra quando usados para a aquisição de frutas ou verduras.

Sei que tudo isso soa banal. Mas é bom lembrar que a gordura mata muito mais americanos do que os terroristas. De fato, o New England Journal of Medicine informou no ano passado que, graças à crescente obesidade, a expectativa de vida nos EUA poderá em breve parar de aumentar, possivelmente diminuindo.

Assim, se nosso governo quer manter as crianças em segurança, não precisa apenas ir atrás dos terroristas no Afeganistão. Também precisa ir atrás dos docinhos em casa.

Huckabee, atual presidente da Associação Nacional dos Governadores, é um republicano conservador (e potencial candidato à presidência em 2008) de quem discordo em quase tudo. Mas ele faz mais do que a maioria dos políticos do país para proteger a vida de seus eleitores. O que faz sentido financeiramente.

Numa entrevista, Huckabee afirmou: "Não quero ser o xerife do açúcar. Não quero ser a polícia da gordura. Esse não é meu trabalho. No entanto, quando olho para o orçamento estadual e vejo que a cada ano nosso orçamento do programa de saúde aumenta em 9% ou 10%, quando olho para os planos de saúde dos funcionários estaduais e vejo que esses custos estão subindo em dois dígitos e no dobro do índice da inflação, tenho a responsabilidade de ver o que fazer para melhorar esse custo."

Huckabee argumenta que valeria a pena pagar pequenas somas - por uma sessão com um instrutor físico ou um conselheiro de dieta - para evitar pagar os custos muito maiores da doença cardíaca e da diabete mais tarde.

Considerem a diabete tipo 2 - o mal que afligia Huckabee, mas agora se foi, graças ao regime de saladas e aos exercícios. Ela aumentou dez vezes entre as crianças só nos últimos 20 anos.

Como observou recentemente uma série sobre diabete no New York Times, um terço das crianças hoje com 5 anos nos EUA deverá ter a doença em algum momento da vida. A diabete já é a principal causa da cegueira. E uma criança de 10 anos com diabete perde 19 anos de expectativa de vida.