Título: Por 6 a 3, BC corta 0,75 ponto da Selic
Autor: Patrícia Campos Mello e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Após quatro horas de reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou ontem um corte de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, confirmando a expectativa do mercado. A taxa foi reduzida para 16,5% ao ano, sem viés. A decisão não foi unânime: foram seis votos a favor do corte de 0,75 ponto e três pelo corte de 1 ponto porcentual.

Para alguns analistas, a falta de consenso pode apontar para cortes mais ousados daqui para frente. "Dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária iniciado na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 16,5%, sem viés, por 6 votos a favor e 3 votos pela redução em 1 ponto porcentual", diz o comunicado do Copom.

Com a decisão, a Selic cai ao menor nível desde setembro de 2004, quando estava em 16% e foi elevada para 16,25%. O comunicado foi muito parecido com o da reunião anterior, mas não mencionou que o Copom iria "acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação".

"O comunicado foi bem positivo, pois não mencionou preocupação com a inflação, e a votação foi dividida. Esses dois fatores aumentam as chances de corte de 1 ponto porcentual na próxima reunião, em abril", acredita Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra. Segundo ela, a decisão seguiu as expectativas do mercado, mas o placar da votação foi melhor que o esperado.

Para a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, os votos favoráveis ao corte de 1 ponto tornam evidente a existência de espaço para reduções maiores e atenuam o conservadorismo do BC.

"Caso o cenário evolua a contento, o Copom poderá promover um corte de 1 ponto na próxima reunião", diz Sandra. Ela ficou surpresa com os três votos a favor do corte de 1 ponto porcentual. Para a economista, estes três diretores do BC que votaram a favor de uma redução maior na Selic podem estar vendo na economia algo que o mercado ainda não viu.

Na opinião de Mário Mesquita, economista-chefe para a América Latina do Banco ABN Amro, esses três diretores devem estar mais preocupados com o ritmo de recuperação da atividade econômica. "O mercado vai olhar atentamente para os indicadores de atividade daqui para frente para avaliar qual poderá ser o tamanho do próximo corte da Selic." A ata da reunião de ontem sai no dia 16. A próxima reunião será nos dias 18 e 19 de abril.