Título: 'Nesse cenário externo, foi de bom tamanho'
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Para Mário Mesquita, economista-chefe para América Latina do Banco ABN Amro, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central foi acertada. Por seis votos a três, o Copom reduziu ontem a taxa básica de juros em 0,75 ponto porcentual. O economista acha que a dosagem de corte de juros foi correta, porque a atividade econômica já dá sinais de recuperação e o repique inflacionário foi controlado. Mas ele quer ver como o mercado vai encarar a falta de consenso na decisão do Copom nas próximas reuniões.

O sr acha que o corte foi acertado ou havia espaço para reduzir a Selic em 1 ponto porcentual?

Acho que o corte de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros foi correto. No fim do ano passado, o Banco Central sinalizou que estava vendo um repique temporário na inflação e recuperação na atividade econômica. O cenário internacional era bastante benigno. De lá para cá, de fato a economia vem se recuperando, e o repique inflacionário passou. Enquanto isso, o cenário externo ficou mais preocupante, porque está ocorrendo uma realocação de portfólios, os investidores estão tirando recursos de emergentes. Portanto, acho que o corte foi do tamanho certo.

Mas não houve consenso na decisão....

Acho que os membros do Copom que votaram a favor de um corte de 1 ponto estão mais preocupados com o ritmo de recuperação da atividade econômica. Mas eu acredito que, de agora em diante, os indicadores de atividade vão corroborar a visão da maioria do Copom, que votou pro um corte de 0,75. A recuperação econômica já está acontecendo. Acho que, na próxima reunião, haverá outro corte de 0,75 ponto porcentual. Além disso, é importante lembrar que existe uma defasagem na política monetária, e só vemos os efeitos de um corte nos juros em seis a nove meses. Já houve bastante descompressão na política monetária, agora é importante esperar para ver os efeitos, antes de tomar atitudes mais agressivas.

Como deve ser a evolução da taxa Selic neste ano?

Estamos bem posicionados para chegar a uma taxa Selic de 15,25% até o final do ano. Esse seria o valor mais baixo da Selic desde 2001. É importante considerar que, à medida que a Selic vai sendo reduzida, há menos espaço para grandes cortes nas taxas. É cada vez menos provável que o Banco Central opte por cortes agressivos, porque a taxa Selic já está bem mais baixa.

Uma virada no humor externo pode brecar os cortes de juros?

Não acho provável que as taxas de juros esbarrem em um muro e parem de cair. Mas, se persistir o cenário externo menos auspicioso, o Banco Central pode ter de tomar mais cuidado nos cortes de juros. Não se trata de uma parada nos cortes de juros, mas será necessária mais cautela.