Título: Para Ipea, investimento baixo limita expansão do PIB a 3,4%
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) manteve a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,4% para 2006 - abaixo das apostas do governo, de 4% - e reduziu a previsão da inflação para o centro da meta (4,5%). O Ipea alertou que, para crescer a taxas mais robustas (de 4% a 5% ao ano), "é preciso aumentar investimentos", e que a redução do uso da capacidade da indústria "abre espaço para longo processo de redução dos juros".

"Não descartaria que o crescimento possa chegar a 4%, mas acredito que ficará mais perto dos 3,5%", disse Fábio Giambiagi, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea. Segundo ele, a economia não contará este ano com um efeito estatístico favorável, que representa um impulso do ano anterior, como houve de 2003 para 2004. No fim de 2005, a atividade estava mais fraca.

Ontem, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, disse em Londres que o País pode crescer 4% este ano. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, também na capital inglesa, indicou que 2006 será parecido com 2004, quando o PIB avançou 4,9%. As projeções de mercado indicam crescimento de 3,5%.

INVESTIMENTO

No boletim trimestral do Ipea, divulgado ontem, a previsão de expansão do PIB foi mantida porque, disse o diretor de Macroeconomia do instituto, Paulo Levy, o cenário traçado em dezembro "vem se materializando como o previsto". A previsão de alta dos investimentos foi reduzida de 7% para 5,8%, considerando que o setor de construção não avançará como é esperado. A estimativa para o IPCA doi reduzida de 4,8% para 4,5%).

Para o Ipea, a economia hoje está "aparelhada para crescer apenas a uma taxa média de 3,5% a 4% ao ano" e o principal desafio é chegar a um ritmo de expansão de 4% a 5%. Para isso, é preciso ampliar a taxa de investimento, estimada em 20% do PIB em 2005. Para crescer 4%, a taxa teria de ficar de 22,5% a 24% e, para 5%, entre 25% e 27% do PIB. Mas a avaliação é de que a taxa ficará em 20,4% este ano.

Giambiagi lembra que houve redução do uso da capacidade instalada da indústria em 2005, o que permite um crescimento equilibrado, sem risco de pressões inflacionárias de curto prazo. Isso, disse ele, dá maior liberdade ao Banco Central (BC) para um processo mais longo de redução de juros. O Ipea projeta que a taxa Selic chegará o último trimestre na faixa de 15,7%.

A projeção de câmbio para o fim do ano caiu de R$ 2,42 para R$ 2,25; a de exportações subiu de US$ 123,4 bilhões para US$ 129,7 bilhões e a de superávit, de US$ 35,8 bilhões para US$ 41,8 bilhões - a maior parte do crescimento decorrendo de aumentos de preços e cotações.